Movimentos Sociais reafirmam plataforma unificada durante Conclat
Se fosse necessário definir com apenas uma palavra a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que ocorre desde as 10h desta terça-feira (1/6) no estádio do Pacaembu, o termo seria unidade. A presença das principais entidades dos movimentos sociais e a plataforma das centrais afinada com o Projeto Brasil, fruto da Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais ocorrida na segunda (31/5), são expressões importantes do clima que marca esta atividade histórica das centrais sindicais.
As atividades da Conclat tiveram início por volta das 10h. Segundo os organizadores, eram cerca de 30 mil trabalhadores entoando o hino nacional. Em seguida, os representantes das cinco centrais que organizam o evento – Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) – se revesaram no microfone, apresentando as pautas presentes nos seis eixos do documento distribuído, intitulado “Agenda da Classe Trabalhadora pelo desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho”.
Representantes de organizações sindicais internacionais e de partidos políticos – PCdoB, PSB, PT e PDT – também tiveram espaço para manifestação no palco dos trabalhadores. Após as falas dos partidos, foi a vez das intervenções dos movimentos populares. O tom dos representantes das entidades foi de uma continuidade da Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais, realizada na segunda-feira (31/5), também em São Paulo, pautando a importância da plataforma aprovada na atividade da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e os diversos pontos de unidade com a plataforma das centrais.
O representante da Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) e a vereadora Eunice Cabral (PDT) foram os primeiros a falar. Eunice é vereadora pelo município de Piracaia (SP) e também presidente do Movimento de Mulheres do Diretório Estadual do PDT e do Sindicato das Costureiras de São Paulo.
Reafirmando o Projeto Brasil
As falas do conjunto de entidades da CMS, entretanto, foram concentradas em um único momento. Dito Barbosa, o Ditinho da Central de Movimentos Populares (CMP), abriu as falas das entidades da CMS comparando os esforços da diplomacia brasileira em defesa da paz com o bárbaro ataque das Forças da Marinha de Israel à frota humanitária integrada por ativistas de diferentes países que se dirigia a Gaza para entregar produtos de primeira necessidade e medicamentos aos palestinos. Ditinho puxou uma vaia de todo o estádio à atitude de Israel, apoiada pelos Estados Unidos, como lembrou o militante.
Após a fala da CMP, a presidente da Confederação Nacional de Associações de Moradores (Conam), Bartíria Costa, fez sua intervenção. Para ela, a Conclat é um “momento histórico para o país, que marca a unidade das centrais para construir um projeto”. Bartíria disse ainda que a plataforma das centrais se soma ao Projeto Brasil, formando uma “unidade dos movimentos sociais para avançar nas mudanças e combater o retorcesso no Brasil”.
Trabalhadores do campo e da cidade
A fala de João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também pautou a unidade, no caso, entre os trabalhadores do campo e da cidade. João Paulo denunciou o “envenenamento do solo” pelos agrotóxicos e disse que o MST vinha à Conclat reafirmar seu compromisso com a Reforma Agrária e dizer que continuará ocupando terras improdutivas como forma de luta. O movimento, segundo ele, quer ainda “garantir que os trabalhadores do campo continuem no campo”. O líder sem-terra finalizou sua fala bradando contra as grandes empresas, pela redução da jornada de trabalho, contra a criminalização dos movimentos sociais e defendendo a solidariedade a Cuba, à Palestina e a autonomia de todos os povos.
Eloquente orador, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, fez referência ao Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), ocorrida em 1981: “30 anos depois, temos que tirar um ensinamento: é o protagonismo popular que nos conduz à conquista de avanços, que nos permitiu conquistar a redemocratização do país, que foi capaz
resistir às políticas de Fernando Henrique Cardoso, e que nos garante a conquista de mais e mais direitos para a classe trabalhadora”.
O representante dos estudantes citou avanços na área da educação como conquistas da classe trabalhadora e para os seus filhos, citando especificamente o Programa Universidade para Todos (ProUni). Augusto finalizou dizendo que a marca da Conclat é que os trabalhadores querem mais, que se organizarão para conquistar mais, e arrematou: “essa unidade é capaz de transformar o Brasil! É chegada a hora de, definitivamente, conquistar o futuro do Brasil sobre as nossas mãos”.
Mulheres na luta, mulheres no poder
Além dos representantes de movimentos sociais que falaram no palco, entidades dos movimentos de mulheres estiveram presentes e valorizaram a participação feminina na Conclat. Para a representante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), e da Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fdim), Márcia Campos, “a principal questão para as mulheres se emanciparem, se libertarem, é o acesso ao trabalho, em todas as categorias”. Sônia Coelho, a Soninha da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), lembra que o trabalho das mulheres ainda é precarizado, que o salário delas ainda é 70% do salário dos homens, e ainda que as mulheres negras recebem cerca de 50% do que recebem as mulheres
Para a representante da União Brasileira de Mulheres (UBM), Lúcia Stumpf, “a presença expressiva de mulheres na Conclat demonstra o protagonismo que elas vêm assumindo no mundo do trabalho e também à frente das centrais e dos sindicatos”. Para Lúcia, a luta contra o machismo exige a presença das mulheres nos espaços de poder, inclusive nos espaços de poder dos movimentos sociais. “Esta é uma condição para conquistarmos um país mais livre e desenvolvido”, disse Lúcia, comemorando quantidade de mulheres oradoras durante as atividades da Conclat.
Nas arquibancadas e alambrados, outros movimentos também se fizeram presentes, com suas bandeiras, militantes e até sua arte. A Conclat segue coma leitura do “Manifesto pelo desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho” e as falas dos presidentes das cinco centrais sindicais.
Fonte: Vermelho