Temporão reconhece falhas em atendimentos a usuários de crack e promete investimentos

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o tratamento oferecido a usuários de crack no país é falho, mas anunciou que o governo federal vai investir R$ 110 milhões para reforçar os atendimentos. Os recursos serão destinados a criar 2,5 mil leitos em hospitais gerais que terão capacidade de atender até 12 mil usuários.

“Reconhecemos que existem falhas, nem todas as pessoas que precisam de atendimento neste momento conseguem no tempo que gostariam, mas o plano que está sendo implementado vai trazer resultados”, afirmou o ministro, que participou hoje (28) da abertura do Fórum Global em Atendimento ao Trauma, promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).  Temporão, no entanto, não informou detalhes sobre a liberação do dinheiro.

 Ele destacou que o crescimento do uso da droga preocupa as autoridades e garantiu que o ministério está atento à questão. Para o ministro, trata-se de um problema “gravíssimo”. “É um problema sério de dependência que devasta a pessoa e afeta as grandes cidades brasileiras”, acrescentou.

Ontem (27), cerca de dez quilos de crack foram apreendidos pela polícia civil do Rio de Janeiro na favela de Manguinhos, zona norte de cidade. No último fim de semana, um jovem músico estrangulou a namorada em sua casa, na zona sul do Rio, após ter feito uso da droga.

 

Rio planeja ações para combate ao uso de crack e outras drogas

 

 

Rio de Janeiro – O caso de um jovem de classe média que, sob efeito de crack, matou a namorada no Rio de Janeiro desencadeou uma série de discussões sobre o aumento do consumo da droga no país e ações das autoridades para combater o vício. A prefeitura da cidade, que anunciou a criação de três unidades para tratar de dependentes de crack, realiza amanhã (29) o 1º Fórum Municipal de Enfrentamento ao Uso Abusivo do Crack e de Outras Substâncias Psicoativas.

Segundo o secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, o objetivo do evento é elaborar um programa de prevenção para os dependentes de drogas, sobretudo o crack. “É fundamental integrar educação, saúde e assistência social nesse processo, além de ações preventivas nas escolas com a participação de líderes comunitários, religiosos, enfim, várias intervenções conjuntas para evitar que ocorra a dependência.”

As novas unidades, que devem ser inauguradas ainda nesta semana, têm 60 vagas, 20 delas para moças de até 18 anos, já que os homens são as maiores vítimas da droga, informou o secretário. “O tratamento prevê internação de aproximadamente um mês, prazo para desintoxicação do viciado. Por ano devemos atender a cerca de 720 meninos e meninas nessas unidades”, disse William. 

“O custo de cada paciente será de aproximadamente R$ 2.500 por mês. Estamos começando com 60 vagas e depois avaliaremos os resultados. Se forem satisfatórios, iremos ampliá-las, mas paralelamente vamos investir na prevenção”, acrescentou o secretário. 

De acordo com mapeamento feito recentemente pela secretaria, 90% das cerca de 400 crianças atendidas nas casas de triagem do órgão se dizem toxicodependentes, sendo a maioria viciada emcrack.

Para a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nepad/Uerj), Maria Thereza Costa Aquino, as novas unidades de tratamento são mais do que bem-vindas, mas as internações devem ser criteriosas. “Não é todo dependente de crack que deve ser internado. Quem deve avaliar isso é um profissional de saúde capacitado. Além disso, é fundamental que haja um programa permanente de prevenção e tratamento às drogas, todo os dias, não apenas em períodos de crise.”

Segundo a psiquiatra, o Brasil carece de conjunto de normas reguladoras para prevenção e tratamento do abuso de drogas, assim como existem regras para o controle de doenças como tuberculose e dengue. 

Maria Thereza disse que não existe um protocolo na área de prevenção e tratamento de drogas. “Qualquer um abre uma clínica e trata o paciente do jeito que achar melhor. Vemos lugares que tratam o doente com banho de água gelada numa jaula, com punições físicas e psicológicas ou com orações. Há muito amadorismo na questão do enfrentamento ao abuso de drogas. Nossos toxicodependentes não podem continuar nesta situação.”

 

 

 

Fonte: Agência Brasil