ALMG vai à Bambuí

Colônia de hansenianos carece de profissionais de saúde e de novos equipamentos

 

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Demandas de infraestrutura, contratação de médicos e profissionais de saúde, compra de aparelhos médicos e implantação de práticas do Sistema Único de Saúde (SUS) foram as principais demandas levantadas por internos da Casa de Saúde São Francisco de Assis, antiga colônia de hansenianos de Bambuí (Centro-Oeste de Minas), durante visita e audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada ao local nesta quarta-feira (19/3/14).

A visita é a segunda feita pela comissão, que está indo às quatro colônias mineiras criadas na década de 1940 para tratamento de pacientes com hanseníase. As visitas são motivadas pela criação na ALMG de uma frente parlamentar que irá diagnosticar a situação atual dessas casas de saúde e atuar na preservação do patrimônio cultural desses locais.

A coordenadora local do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Dalva Gomes de Oliveira, apresentou uma pauta de reivindicações que inclui atendimento prioritário aos moradores e ex-pacientes da Casa de Saúde São Francisco, transporte gratuito, contratação de especialistas, compra de aparelhos, montagem de um posto policial e melhoria das estruturas dos laboratórios. “O atendimento básico é a maior demanda que temos hoje porque não há hospital estadual nas proximidades”, explicou.

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O coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio, falou da necessidade de o poder público municipal se mostrar parceiro para auxiliar a Casa de Saúde São Francisco de Assis em suas demandas. “Aqui é o ponto de referência dos cidadãos de Bambuí em termos de assistência à saúde, de modo que precisamos oferecer também serviços do SUS. Nesse processo de transição, precisamos pensar em incluir toda a região nos atendimentos”, defendeu. O coordenador complementou dizendo que há um patrimônio cultural a ser preservado no local e espera a construção de um memorial histórico. “Isso é para que nós não esqueçamos o que aconteceu aqui”.

A diretora do Sindicato dos Servidores da Saúde (SindSaúde-MG), Neusa Freitas, disse que há um alto nível de doenças nos trabalhadores que atuam na casa de saúde porque os pacientes internados são totalmente dependentes e o número de profissionais é reduzido. “Eles estão sobrecarregados. Isso sem contar os casos de assédio moral, a falta de medicamentos e equipamentos. Os problemas são não só com os pacientes, mas também com os trabalhadores”, afirmou.

 

 

Instituição quer ser referência em assistência básica

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) é responsável pela administração das antigas colônias de hansenianos. O assessor do Complexo de Reabilitação e Cuidado ao Idoso da instituição, Tiago Sávio Moreira Passos, disse que já foi feito um plano de ação, que será executado por meio de convênio. “Orçamentos estão sendo feitos, e acreditamos que em breve os recursos serão disponibilizados”, informou.

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O diretor assistencial da Fhemig, Henrique Timo, disse que o momento é de redefinição da função das casas de saúde remanescentes, já que os atuais 82 pacientes crônicos de hanseníase são minoria da clientela da Casa de Saúde São Francisco de Assis.

“Queremos atender demandas da população em geral também, principalmente nas áreas de cuidado ao idoso e reabilitação. Reabrimos o bloco cirúrgico para realização de diversos procedimentos. Estamos fazendo uma obra de mais de R$ 600 mil para reforma de enfermarias e trocas de telhados. Quarenta e três leitos serão disponibilizados, e precisamos definir o que será feito deles”, esclareceu.

O diretor mencionou também outras questões que precisam ser resolvidas e nas quais o Governo do Estado está trabalhando, como regularização fundiária, violência e uso de drogas. Quanto à questão dos trabalhadores da saúde, ele declarou que foi formada uma comissão de redimensionamento de recursos humanos para auxiliar a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão na resolução do problema.

A diretora da Casa de Saúde São Francisco de Assis, Maria José de Carvalho Leite, destacou o momento histórico de transição que a instituição vive. “Conseguimos avançar em alguns pontos essenciais: mantivemos o plantão noturno, estamos trabalhando na organização do SUS no hospital e queremos ser referência em ortopedia e atendimento a idosos. Nossa microrregião é carente, e a estrutura daqui é de 1943. Queremos reencontrar a vocação para este hospital. Estamos num processo contínuo de renovação e inauguração de instalações”, disse.

A diretora também frisou o problema dos moradores que instalam cozinhas dentro de quartos, com fogões e botijões de gás, o que atenta contra a segurança dos próprios internos, além de não ser permitido pela Vigilância Sanitária.

Prefeitura – O secretário municipal de Educação e Assistência Social de Bambuí, Ivan Chaves de Magalhães, ressaltou que a prefeitura ajuda na medida em que pode, mas o Estado também precisa assumir as responsabilidades que lhe cabem. “Fazemos a nossa parte. O asfaltamento da via de acesso à casa de saúde é responsabilidade do Estado, e mesmo assim fizemos um remendo na estrada que chega até aqui. Mas não temos como assumir tudo o que é de responsabilidade do Estado”, afirmou.

Deputados cobram responsabilidade na busca de soluções

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A deputada Maria Tereza Lara (PT) sugeriu que seja criada em Bambuí uma comissão mista para definir a responsabilidade de cada uma das partes do poder público na manutenção da Casa de Saúde São Francisco, com especial ênfase na questão do asfaltamento da via de acesso ao local. Ela também levantou a necessidade de construção de uma cozinha comunitária para uso dos internos. “Queremos dialogar com vocês para chegar a um consenso sobre o que é necessário fazer e quem pode fazer o quê”, afirmou.

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O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) destacou que a responsabilidade de cuidar da Casa de Saúde São Francisco é de todos. “Tivemos melhorias, mas elas não são suficientes para garantir a cidadania de quem está aqui hoje”, afirmou. “Um botijão de gás dentro dos quartos é uma ameaça não só aos pacientes, mas a todos”, continuou. O parlamentar sugeriu, quanto à questão do asfaltamento, a inclusão da região como prioridade no programa estadual Pró-Acesso.

Também foi proposto requerimento de visita à Secretaria de Estado de Transporte e Obras Públicas, para tratar do mesmo tema. Esse requerimento deve ser apreciado em reunião posterior.

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Fonte: ALMG

Fotos: ALMG e Acervo Morhan