Agente de saúde é vítima de violência sexual

Uma agente de combate a endemias de Pato de Minas foi vítima de assédio sexual, neste mês de abril, enquanto cumpria sua jornada de trabalho. Mais uma prova da opressão que ronda o cotidiano das trabalhadoras da saúde.

Charge Latuff mulher



*A agente preferiu não se identificar. Nesta matéria ela será identificada como AS.

Era pra ser um dia como outro qualquer. A agente de combate a endemias AS saiu para cumprir mais uma jornada de trabalho, consciente da importância do seu papel neste momento de epidemias, já que atua diretamente com o combate ao mosquito Aedes Aegypti. Mas sua rotina foi violentada e o dia 12 de abril de 2016 vai ficar marcado na memória de AS como muita indignação e tristeza.

A agente, que há cerca de dois anos trabalha para o município de Patos de Minas, relata que nesse dia, ao visitar uma das casas foi brutamente agarrada e beijada pelo proprietário deste imóvel. “Primeiro ele segurou forte meu braço e me beijou o rosto. Quando eu tentei sair ele apertou meu punho, segurou meu rosto e beijou a minha boca”, conta. AS disse que saiu correndo e tentou prosseguir normalmente com seu trabalho, mas quando chegou à próxima casa, chorou muito e relatou o que tinha acontecido para a vizinha do violentador. Imediatamente ela foi orientada a chamar a polícia e denunciar o que tinha acontecido. O homem foi conduzido à delegacia para prestar depoimento e chegou a afirmar para a polícia que o ato foi apenas uma “manifestação de carinho”. O violentador vai responder judicialmente por importunação ofensiva ao pudor.

Histórico

AS conta que assim que começou a trabalhar como agente, esse homem já praticava assédio contra ela. Relata que como tinha pouco tempo como contratada, ficou com medo de perder o emprego caso se recusasse a visitar a moradia do violentador. O que ela pôde fazer foi entrar na casa somente quando a esposa do homem estivesse presente.

Na semana passada, infelizmente, ela não pode perceber que o homem estava sozinho e que isso seria um motivo para que ele a violentasse. “Eu também fiquei com medo de ir embora e ele reclamar na Prefeitura. Eu não posso perder meu emprego”, explica.

Marcas

“Eu saí de lá me sentindo um lixo. Eu apenas estava trabalhando, não dei motivo nenhum pra ele fazer isso comigo”, ressalta. Esse depoimento da agente é apenas uma das marcas que ficam após uma violência desse tipo. Ela ainda afirma que o medo é constante, principalmente quando vai entrar em uma construção ou residência onde só tem a presença de homens. “Sempre fico me perguntando: será que vai acontecer de novo?”.

Lugar de mulher é em todo lugar

O que aconteceu com a AS reflete a realidade em que estão submetidas milhares de mulheres que doam seu trabalho à saúde pública, afinal, são a maioria. Mulheres que buscam conciliar o peso da vida doméstica e ainda ter forças para cuidar do(a) do(a) outro(a), buscando assim sua fonte de renda. A diretora do Sind-Saúde, Lionete Pires, afirma que esse caso retrata uma violência cotidiana, também responsável por outras consequências: stress, adoecimento, depressão.

“O estado precisa pensar a condição de trabalho dessas servidoras, isso não pode ser encarado como um problema pessoal”, afirma Lionete.

A agente AS diz que o ideal é que o trabalho dos(as) agentes(as) fosse feito em dupla ou em grupo. Hoje, mais que nunca, ela assume o perigo de encarar o desconhecido em uma sociedade tão machista e opressora. “Eu só peço respeito à sociedade. Eu amo fazer meu trabalho, estou cuidando do próximo, mas peço para ser respeitada”. O pedido de AS soa como um grito de milhões de mulheres que diariamente sofrem com algum tipo de violência. No verbo, no olhar, no toque. As violências são muitas e devem ser combatidas e denunciadas a todo tempo.

O Sind-Saúde reconhece o papel protagonista das mulheres na construção da saúde pública e denuncia todas as formas de machismo e opressão contra essas trabalhadoras. Desejamos e lutaremos para que casos como esse fiquem estancados em uma história muito distante, lembrada em uma nova era, onde não haverá opressores(as) nem oprimidas(os).