Marcha das Mulheres Negras

Ato, com centenas de participantes de 65 cidades de Minas Gerais, denuncia desigualdades de raça e gênero

 

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Centenas de mulheres negras, reunidas na Praça Sete, na Região Central de Belo Horizonte, levantam ao alto o punho direito. A atitude lembra os Panteras Negras, que lutaram pela igualdade racial nos Estados Unidos na década de 1960, e se tornaram símbolos de resistência em todo o mundo. No dia 13 de maio, o objetivo era mostrar a mulher negra, seus problemas e suas diversas belezas, denunciar o racismo e exigir políticas públicas que enfrentem o crime no Estado. A manifestação contou com falas políticas, apresentações culturais e um importante momento de entrega do manifesto das mulheres negras ao secretário do governo do Estado, Odair Cunha.
 
A Marcha das Mulheres Negras começou às 14 horas, no marco zero de Belo Horizonte, e seguiu até a Praça da Estação. Mulheres de 65 cidades mineiras participaram, segundo Benilda Brito, coordenadora do grupo N’zinga e uma das organizadoras do evento.
 
“Esse é um dia histórico porque, além de ser o dia da abolição da escravatura, é também o dia nacional de denúncia do racismo”, lembra Benilda. “Embora a gente tenha uma política que evoluiu nas questões sociais, quando fazemos um recorte racial, a melhoria na vida das mulheres negras é bem inferior”, explica.
 
Durante toda a tarde, a organização colocou no palco: MCs, cantoras, percussionistas e dançarinas. Cristal Lopez, uma mulher trans negra, apresentou uma dança em homenagem às orixás. “Como é uma marcha das mulheres negras, eu acho que as mulheres trans precisam estar aqui. Então me senti na obrigação de vir representá-las”, declara.
 
Vinda de longe, da comunidade quilombola Cachoeira dos Forros, do município de Passatempo, Darlene Aparecida trouxe também a família. “A gente quer passar para as crianças que a gente tem que assumir a nossa raça, ter orgulho de ser negro. Às vezes, na escola o menino negro é chamado de feio, bicho, cabelo duro, mas ele é lindo”, diz.
 
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Demandas
 
“Nós exigimos do governo brasileiro, e, aqui e hoje, [também] do governo de Minas, a elaboração de políticas que venham acabar com essa desigualdade”, afirma Benilda. Segundo ela, as mulheres negras continuam com os piores salários, o mais alto índice de analfabetismo, o mais alto índice de mortalidade materna, entre outros.
 
Já Yone Gonzaga, do Grupo de União de Consciência Negra (Grucon) e membro do Programa Ações Afirmativas na UFMG, lembra da inclusão das mulheres negras na educação. “Apesar de termos cotas para estudantes negros, nós precisamos de assistência para permanecer dentro das instituições”, afirma.

Andreia Roseno, da Marcha Mundial de Mulheres, explica que o principal objetivo do ato foi denunciar o racismo que ainda acontece com muita força em Minas Gerais, além de exigir políticas públicas. “Minas Gerais ainda tem um ranço colonialista muito forte, um racismo velado e, que por vezes é mesmo escancarado”, diz. Ela lembra a necessidade de combater a intolerância religiosa, da qual as negras são vítimas, e da construção de um “viver bem” na sociedade.

“A intenção do ato foi mostrar que as negras não estão satisfeitas com os rumos que a sociedade vem tomando e com o fato de que não estamos encontrando espaço nela”, frisa.

 

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Abolição da escravidão

A integrante da Marcha Mundial de Mulhres disse que o movimento ocorre no dia em que se comemora a abolição da escravidão no país, mas os coletivos denunciam que essa escravidão na verdade não acabou. “Dia 13 de maio é dia de denunciar que a abolição na verdade não aconteceu, pois o Brasil se isentou por muitos anos em fazer medidas de reparação. É dia de mostrar que a sociedade ainda vive os ranços dessa abolição mal feita”, diz.

Andreia Roseno afirma que o ato também fortaleceu o movimento mineiro para a participação da Marcha das Mulheres Negras Nacional, que acontecerá no dia 18 de novembro, em Brasília. Além disso, ela destaca que os coletivos pretendem continuar se mobilizando em Minas Gerais. “O ato foi um recado para Minas Gerais de que nós vamos continuar articuladas, politizando para enfrentar o racismo no Estado”, garante.

 

Escrito por: Portal Minas Livre, com informações do Brasil de Fato