Em audiência que era para ser pública, servidores e sindicatos denunciaram problemas da Cidade Administrativa

A audiência pública da manhã desta quinta-feira (09) na Assembleia Legislativa para tratar de problemas na Cidade Administrativa de Minas Gerais (CAMG) tinha tudo para ser produtiva: presença de representantes do governo, de dirigentes sindicais, de deputados da base e da oposição e de servidores lotados na nova sede. Porém, após meia hora de exposição da intendente da Cidade Administrativa, Kênnya Kreppel e após meia hora de contraposição de alguns dos representantes dos servidores, o então presidente da Comissão de Administração Pública, deputado Délio Malheiros (PV), declarou encerrada a audiência e, junto com a intendente e com os outros deputados da base, deram as costas para os brados dos servidores que, conforme preconiza uma audiência “pública”, queriam participar fazendo intervenções e perguntas.

Tal ato demonstrou mais uma vez como o governo age de maneira anti-democrática, sem permitir a participação daqueles que pensam diferente e que querem debater os problemas de Minas Gerais. Mas o tiro saiu pela culatra: os servidores, que se sentiram humilhados, continuaram em reunião e prometeram ampliar ainda mais a luta por, dentre outras reivindicações, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, melhoria das condições de trabalho na Cidade Administrativa e investigação de possíveis irregularidades e beneficiamentos nos contratos e licitações para a construção e manutenção da nova sede do governo.

Duas Cidades Administrativas: uma ideal, outra real

Em sua longa e detalhada exposição, a intendente Kênnya Kreppel pormenorizou as justificativas pela construção da CAMG e tentou explicar como cada um dos problemas mais comuns têm sido resolvidos. A apresentação parecia mostrar um “paraíso na Terra”: tudo aparentemente muito bem planejado e muito bem executado. Mas a intervenção dos servidores e dos sindicalistas demonstrou que atrás dessa Cidade Administrativa idealizada, existe uma real, em que os servidores não foram e não são ouvidos e respeitados, em que existem de problemas básicos como entupimento de banheiros a problemas políticos maiores, como a especulação imobiliária no entorno e o beneficiamento de grandes construtoras. Os argumentos da intendente foram, um a um, sendo desmontados. Por exemplo: o governo sempre disse que iria economizar mais de 90 milhões por ano com a concentração das secretarias, mas até agora nenhuma prestação de contas mostrou isso: há na verdade muitos outros gastos absurdos – como o da própria construção da CAMG, que com 1 bilhão e 200 milhões de reais, gastou muito mais do que foi investido nos últimos anos em construção, reformas e equipamentos de unidades de saúde.

Alguns outros problemas relatados pelos servidores e sindicalistas:

– Longa distância a ser percorrida diariamente entre o estacionamento e o local de trabalho;

– Transporte insuficiente ou, em algumas regiões de Belo Horizonte, inexistente (o que obriga servidores a terem que contratar serviço de vans);

– Alarme de incêndio que dispara constantemente, causando apreensão e desespero;

– Péssima qualidade dos restaurantes;

– Pouco espaço no refeitório de cada andar para aqueles que desejam trazer comida de casa;

– Obras inacabadas;

– Constante adoecimento dos servidores;

– Ampliação de 3 ou até 4 horas a mais na jornada de trabalho em virtude da distância a ser percorrida diariamente;

– Falta de transporte para os vigias que trabalham nos finais de semana;

– Impedimento de vários serviços prestados pela Polícia Civil, como distribuição de armamentos e garantia do anonimato para denúncias;

– Problemas estruturais como afundamento de terreno, rachaduras nos prédios e alagamentos;

– Inexistência de creches para que os servidores possam deixar os seus filhos;

– Poucas agências bancárias.

Continuidade da luta

Mesmo após serem desrespeitados pelos deputados da base, os servidores, sindicalistas e deputados da oposição (neste caso: Rogério Correia – PT e Antônio Júlio – PMDB) continuaram reunidos para repudiar tal atitude e traçar os rumos da luta por respeito e valorização, que se materializa, inicialmente, na luta pela redução da jornada de trabalho definitiva para 6 horas para todos lotados na nova sede, sem redução salarial. Ficou decidido que o movimento convocará todos os trabalhadores da CAMG para um ato no local no dia 15 de junho, a partir das 9 horas, quando, inclusive, acontecerá uma assembleia geral da saúde com indicativo de greve.

Além disso, o deputado Rogério Correia propôs cinco requerimentos (que serão apreciados na próxima reunião ordinária):

– Solicitar ao governo informações sobre o custo total das obras da Cidade Administrativa, bem como dos móveis e equipamentos comprados;

– Solicitar ao governo um cronograma das obras que estão sendo e que serão realizadas na nova sede, indicando de quais orçamentos virão os recursos;

– Questionar o governo quanto está sendo cobrado de aluguel do prédio que era ocupado pelo Ipsemg na Praça da Liberdade, mostrando se valeu a pena a mudança para a Cidade Administrativa;

– A Comissão de Administração Pública realizar uma visita ao Ministério Público para se inteirar de processos abertos relativos à Cidade Administrativa.

– Solicitar que o governo delibere pela jornada permanente de 6 horas.

Falas

Carla Anunciatta, servidora da Secretaria de Saúde, representante da Comissão dos Trabalhadores da CAMG: “O governo de Minas vive dizendo que este estado é de eficiência, mas eficiência se consegue com os servidores, e este governo não tem os valorizado”

Tomáz de Jesus, diretor do Sind-Saúde/MG: “No dia 4 de janeiro o Sind-Saúde encaminhou um ofício com 31 demandas dos servidores lotados na Cidade Administrativa e até hoje nada foi de fato atendido”

Beatriz Cerqueira, coordenadora do SindUTE-MG: “Há em Minas uma disputa de orçamento. E com a Cidade Administrativa quem lucrou foram as construtoras, a especulação imobiliária e os financiadores de campanha”

Denílson Martins, presidente do Sindpol: “Não se discutiu o impacto que a obra ia trazer para a vizinhança. E acabou se trazendo grande especulação imobiliária. Essa obra serviu para expansão imobiliária, econômica e política de poucos”

Lindolfo de Castro, presidente do Sindifisco-MG: “A Cidade Administrativa não atende aos interesses dos servidores e da sociedade e não gera economia para o Estado. Então foi feito a serviço de quem?”

Rosane Maria, diretora do Sindados: “Uma ‘cidade’ significa um lugar que as pessoas tem tudo à sua disposição, mas não é isso que acontece na Cidade Administrativa”

Confira abaixo algumas fotos da audiência desta quinta:

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Momento em que os deputados da base e a intendente abandonam a audiência, sem permitir a participação dos servidores. Foto: Guilherme Bergamini/ALMG