Comissão da ALMG constata irregularidades no hospital Júlia Kubitschek
Na manhã desta quarta-feira, 25/05, o Sind-Saúde/MG acompanhou a Comissão de Defesa da Mulher presidida pela deputada estadual Ana Paula Siqueira (REDE), junto ao deputado estadual Betão, em visita técnica a fim de verificar as condições de funcionamento do Hospital Júlia Kubitschek, no que diz respeito ao atendimento à mulher e demais alas de atendimento.
Uma série de denúncias e irregularidades na unidade foram apresentadas por trabalhadores e por diretores do sindicato, entre elas a tentativa da gestão do hospital de ‘maquiar’ a ala do setor emergência para parecer que ela está sendo utilizada.
O local destinado para pacientes que precisam de atendimento de urgência está fechado desde 2020, quando foi redirecionado para atendimento exclusivo a pacientes da Covid.
No dia 28 de abril, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) disse que abriria mais 30 leitos da enfermaria no setor, que seria reativado. Mas o que os servidores do hospital alegam é que até a noite de terça-feira (24), a ala de urgência ainda não estaria em funcionamento. Pela manhã, alguns pacientes que estavam internados em outras alas do hospital foram transferidos para o local momentos antes da visita técnica.
O Guarda Civil Municipal, Regis Fernando Botelho, de 34 anos, estava no local acompanhando a mãe e disse que a mudança de setor ocorreu às presas.
“Nós viemos para o setor hoje. Antes nós estávamos na enfermaria, onde, inclusive, o chuveiro está queimado”, denuncia o guarda, que completa. “Só falaram que era para ocupar o espaço, então descemos para cá e estamos até agora”, disse.
“Inicialmente a visita tinha como ponto objetivo a verificação da suspensão do atendimento de emergência e urgência e com os impactos na saúde da mulher, mas acabou que nós encontramos aqui situações ainda mais graves que a falta desse atendimento”, pontua a deputada Ana Paula Siqueira (Rede).
“Nós identificamos uma tentativa de maquiagem e, podemos dizer até uma fraude nos atendimentos da emergência. A ala está bem bonita, muito bem montada, equipamentos novos. Porém, encontramos lá três famílias, recentemente transferidas há menos de 40 minutos”, denuncia Ana Paula.
Além da suspeita de que o setor ainda não tenha retomado os atendimentos, como acontecia antes da pandemia, há a denúncia de que outras unidades de saúde da região estejam abarrotadas de pacientes que esperam até 24 horas para conseguirem uma consulta.
Ainda segundo a deputada, outra situação encontrada foi a falta de médicos para o atendimento. “Identificamos a ausência de quatro médicos e, segundo o coordenador da unidade, está sendo feito um processo seletivo, mas ainda não há data certa para que sejam supridas, então isso gera uma sobrecarga nos profissionais quejá estão, uma despesa maior para o Estado, por eles estão trabalhando em um regime extraordinário”, diz.
Equipamentos mal armazenados
No Hospital Júlia Kubitschek, além do atendimento de urgência não ter sido retomado, chamaram a atenção dos deputados outros problemas, como a falta de profissionais, incubadoras colocadas nos corredores, ausência de elevador para transporte dos pacientes dentro do hospital e o armazenamento inadequado de equipamentos hospitalares caros.
Trabalhadores alegam que, os próprios médicos se reorganizaram para manter o plantão estratégico na CTI da Maternidade no Ambulatório do Atendimento à Saúde da Mulher, porque eles ficaram revoltados com a atitude do hospital de querer fechar, o que acaba gerando ainda mais gastos para o Estado porque, em vez de fazer concurso, os profissionais têm de estender suas jornadas. Eles alegaram, ainda, uma estratégia de redução do atendimento, para que a comunidade deixe de buscar a unidade e o governo possa fechá-la.
O deputado Betão afirmou que a estratégia é a mesma que foi usada em hospitais em Patos de Minas e Juiz de Fora.
“Desestimulam as pessoas de buscar os serviços para esvaziar, e depois entregam as estruturas para organizações sociais administrarem. É uma privatização ilegal, com a desculpa de trazer melhoras, mas que só provoca o fechamento de serviços”, denunciou o parlamentar.
Atendimento pediátrico é problema na UPA
Na UPA Barreiro, o maior problema, segundo o gerente da unidade, Paulo Henrique Franco Lopes, está no atendimento pediátrico. Quando os parlamentares chegaram à UPA, mães com bebês recém-nascidos relataram grande tempo de espera na porta e até mesmo falta de espaço para trocar fraldas nos banheiros. A unidade conta, atualmente, com apenas um pediatra.
“Eu tenho autorização para contratar profissionais via RPA (recibo de pagamento autônomo), mas não conseguimos encontrar. Mobilizamos em sites de vagas, em grupos de whatsapp e simplesmente não conseguimos encontrar pediatras para atender aqui. Hoje, esse é o nosso maior gargalo”, afirmou o gerente.
O presidente do Conselho de Saúde do Barreiro disse que os profissionais da UPA se esforçam para atender a demanda, que chega a 8 mil pacientes por mês, e tem aumentado nesta época do ano, em que mais pessoas com sintomas respiratórios chegam ao local.
“Mas nenhum pediatra vai vir aqui para ganhar pouco e, ainda por cima, demorar a receber via RPA. A Prefeitura de
Belo Horizonte precisa melhorar a remuneração e fazer concurso público. Todo ano, nessa época, a demanda aumenta, a Secretária Municipal de Saúde sabe disso. As instalações daqui são boas e até há a previsão de uma reforma na unidade começar em 30 de maio. Mas sem médicos não tem como”, argumentou Victor Campos Ferreira.
O presidente do Conselho afirmou que, caso a urgência no Hospital Júlia Kubitschek não reabra logo, a tendência é que o atendimento em toda a região seja ainda mais afetado. “O que as pessoas não percebem é que o Barreiro é uma região muito impactada pelo entorno. Na UPA, chegam muitas pessoas de Sarzedo, Esmeraldas, Mário Campos. Sem o hospital para dividir essa demanda, fica muito complicado. E, como verificamos aqui, atualmente a UPA não está enviando ninguém para o hospital, só pacientes gravíssimos, em último caso”, disse Ferreira.