Janaúba:saúde do trabalhador

Na última semana, 12/01, foi realizado na cidade de Janaúba o seminário sobre a saúde do trabalhador. O encontro, voltado para os (as) trabalhadores (as) da saúde, refletiu sobre a importância de cuidar daqueles que cuidam.


Os que cuidam, merecem cuidado.  Em meio a uma rotina acelerada de trabalho, trabalhadores e trabalhadoras da saúde enfrentam diversos problemas que acabam se convertendo em doenças.  Frente a essa realidade, se faz necessário ampliar os espaços de debate e reflexão sobre a saúde do trabalhador. Com essa proposta, o Sind-Saúde realizou em Janaúba um Seminário para debater o tema. O encontro foi realizado na última semana, 12/01, e teve participação de cerca de 50 trabalhadores (as) da saúde, inclusive familiares.

A engenheira do trabalho Marta Freitas, convidada para o espaço, fez uma exposição sobre diversos temas relacionados à saúde do trabalhador. Abordou a legislação geral e também aprofundou sobre a norma reguladora NR12, eentre outras questões da saúde do trabalhador da saúde. Os trabalhadores também puderam falar das suas realidades e  na oportunidade  quatro trabalhadores, dois com perda auditiva e dois com câncer de pele, em consequência da atividade laboral, foram encaminhados ao Cerest de Montes Claros.

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Outro ponto discutido no seminário foi o nível de exposição das mulheres, no trabalho cotidiano. A reflexão deixada é que é necessário construir uma política de assistência e proteção às trabalhadoras, tanto pelas condições físicas específicas da mulher, como tanto pelas condições sociais a que as mulheres são submetidas historicamente, como o assédio e a violência.

Charge Latuff

O Sind-Saúde assume a tarefa de continuar construindo espaços como esses, acreditando que é uma forma de fortalecer a organização e o empoderamento dos trabalhadores (as) na luta pelos seus direitos. Além de outros seminários, está sendo construída a proposta de  implementação da “Mesa SUS” no município, para que esse e outros temas sejam tratados junto ao poder público.

A saúde do trabalhador da Saúde

A pesquisadora e psicóloga do trabalho Crisane Rosette possui uma investigação específica sobre a saúde do trabalhador da saúde. Crisane explica que o adoecimento e o sofrimento mental estão se sobressaindo na realidade desses trabalhadores. “Às vezes é difícil confirmar quantitativamente, porque em alguns casos, os próprios trabalhadores não admitem que estão doentes”, comenta.

Para a psicóloga do trabalho, as causas do adoecimento passam pelas condições de trabalho, as relações de poder que se impõe no local, além de uma forte sobrecarga de atividades. Depressão, desgastes físicos e mentais, fatiga, stress e até descargas psicomotoras são alguns dos reflexos na vida dos trabalhadores. “É difícil. São trabalhadores que já carregam suas dores, suas realidades e precisam cuidar das dores do outro, em um contexto de fragilidade”, afirma.  Patrícia Gonçalves, diretora do Sind-Saúde, Núcleo Vespasiano,  concorda que os trabalhadores têm que enfrentar muitos problemas e acabam sendo atingidos. Principalmente os que trabalham com atenção psicossocial. “A área da saúde está doente, mas apesar de tudo, resistimos para defender o SUS, um sistema realmente público e para todos”, afirma.

Além de abordar as dificuldades enfrentadas, Crisane também aborda na sua pesquisa o movimento dos trabalhadores para resistir a essas condições e seguir na construção do SUS. Segundo ela, são criados atalhos e formas alternativas para manter a essência do trabalho assistencial, em meio a tantas dificuldades. “Se hoje a gente tem um sistema público de saúde, é também por esses trabalhadores”, destaca.

Crisane afirma ainda que essa realidade não deve ser naturalizada e que é necessário seguir lutando pela construção do SUS. “A gente não vai conseguir ter condições dignas para o trabalhador, se não houver uma vontade política. Claro que não podemos ficar sentados esperando, é necessário agir junto aos coletivos de trabalho, em um movimento de integração”, ressalta.

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“É difícil. São trabalhadores que já carregam suas dores, suas realidades e precisam cuidar das dores do outro, em um contexto de fragilidade”. Psicóloga do trabalho Crisane Rosette