O enfrentamento da pandemia no Brasil tem a cara da mulher brasileira

As profissionais da saúde se transformaram em verdadeiras heroínas. Há um ano elas deixam seus filhos e familiares em casa e dão a vida para cuidar e salvar os outros. A luta incansável das jornadas múltiplas se tornou mais difícil ainda durante a pandemia. Depois de turnos completamente desgastantes, apavorantes onde se presenciou tanta dor e morte, elas vão pra casa enfrentar mais uma jornada, porque são mães e esposas, ou simplesmente mãe solo que não tem com quem contar para cuidar da casa, das atividades escolares das crianças, entre tantas outras coisas que a mulher tem que desempenhar.

Neste dia das mulheres completamente atípico, não dá para não pensar nas mulheres que estiveram e as que ainda estão na linha de frente do enfrentamento a Covid-19. É preciso lembrar com gratidão, carinho e força daquelas que foram levadas pelo vírus enquanto lutavam nos corredores dos hospitais para conter a doença. E exaltar àquelas que ainda estão na luta, vivendo um dia de cada vez, convivendo com a tristeza, a morte e o medo. Essas mulheres serão pra sempre lembradas pela sua força e resiliência de ter vivido o pior momento de sobrecarga adicional de trabalho e emocional.

Cuidar de pacientes infectados por uma doença respiratória para a qual não havia protocolos criados, ministrar medicamentos em meio a um mar de incertezas, enfrentar colapsos do sistema de saúde, uma sobrecarga de trabalho com risco iminente de contaminação e notificar familiares sobre óbitos com uma frequência inédita.

Essa é a rotina vivida há mais de um ano pela tão citada linha de frente do combate ao coronavírus. Mas, ainda que a frase tenha sido muito falada e ouvida, não deixa claro um marcador social importante: a maioria dos profissionais que estão em contato direto com os pacientes da covid-19 são do gênero feminino.

A maior categoria da área da saúde, a enfermagem, é composta por 85% de mulheres. Os dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) mostram que são elas, as enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, principalmente, que protagonizam o enfrentamento ao vírus cara a cara.

É realmente muito desgastante, fisicamente e emocionalmente. Uma sobrecarga que inicia desde toda paramentação até comunicar falecimento aos familiares. Como não se emocionar com a força dessas mulheres?

As técnicas e auxiliares de enfermagem também são maioria entre os pacientes que desenvolveram a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A categoria se destaca, novamente, como a mais vitimada pelo vírus entre os 452 óbitos registrados entre os profissionais de saúde até a última semana do ano passado, correspondendo a 33,3% das mortes. Mais da metade (53,8%) dos profissionais de saúde que faleceram em decorrência da doença respiratória, considerando todas as categorias, eram do gênero feminino.

Diante da subnotificação dos casos de infecção do vírus em toda a população, o Cofen passou a receber e sistematizar as notificações de óbitos e contaminações, disponibilizando os dados no Observatório da Enfermagem. Entretanto, vale destacar que a notificação ao Cofen não é obrigatória, ou seja, é possível que o número seja ainda maior.

As informações do Conselho apontam para 49.058 casos reportados apenas entre profissionais da categoria e um total de 646 óbitos. Dessas 646 vítimas fatais, 434 eram mulheres, 66,9% do total. Entre as infecções, elas correspondem a 85% dos casos.

Por isso hoje, no dia internacional da mulher, nossa homenagem é intrinsecamente a essas profissionais da linha de frente. Solidariedade, gratidão, esperança e fé são os sentimentos que devemos canalizar. O amor pela profissão é o que move e da força para continuar nesta guerra, e por isso, a gratidão deve ser a mola propulsora.
Sabemos que a tristeza, o cansaço, o medo são sentimentos apavorantes, mas temos que continuar tendo fé, esperança, que essa avalanche vai passar.