Não ao fechamento do Galba!
Fhemig tenta aproveitar de pandemia para esvaziar hospital psiquiátrico
Ala abandonada no hospital atende a demanda psiquiatrica do Estado
Apesar de não ter infraestrutura para abrigar novos leitos destinados ao combate da COVID-19, o Hospital Galba Veloso Psiquiátrico virou alvo da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) e uma série de medidas está sendo tomada para esvaziar a unidade a toque de caixa. A alegação da pandemia, entretanto, tem sido questionada pelos servidores e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pede na Justiça que o atendimento seja restabelecido imediatamente. A solução para abertura de novos leitos pode ser encontrada em outros hospitais da Fhemig, inclusive há poucos metros do Galba Psiquiátrico: a unidade ortopédica fechada pela Fundação em 2018 está até hoje sem destinação. A tensão dos servidores é que esteja por trás da ação um projeto antigo de fechar o complexo para atender a interesses imobiliários pelo terreno, localizado em uma região estratégica de Belo Horizonte.
Ouvidos pelo Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG), servidores do HGV relatam a dificuldade de transformar o local em leitos para receber pacientes do COVID-19. “O setor psiquiátrico não tem condições de receber pacientes clínicos. Não pode ter tomada, não pode ter oxigênio, nem aspirador em um leito porque tem risco do paciente suicidar. E em um momento de pandemia, há um aumento de luto, isolamento, depressão, suicídio e outras crises como esquizofrenia e enquanto isso eles vão fechar leitos psiquiátricos. São 120 leitos sendo fechados em um momento que deveria se abrir novos leitos” alerta um médico da psiquiatria do hospital.
Além da desassistência promovida pelo esvaziamento do hospital, os servidores denunciam a forma intempestiva da ação que não respeitou a conduta de atendimento na saúde mental. As transferências de pacientes para o Instituto Raul Soares (IRS) que começou na semana passada não foi comunicada aos familiares e sequer foram discutidas com a equipe médica.
“Estão carregando os pacientes sem condição alguma. Estou revoltada de ver essa situação aqui. Peço socorro para não tratar os pacientes dessa forma como estão arrancando eles daqui e levando para outro hospital sem avisar os familiares. Eu mesma não fui avisada. Só quando liguei aqui e fiquei sabendo”, se revolta Maria Guadalupe da Cunha, irmã de um dos usuários transferidos.
Apesar da transferência e da unidade já ter alas completamente vazias, nenhum sinal de reforma é visto no HGV. Ao contrário, visitas de empresários do setor privado da saúde e de empresa de construção imobiliária aumentam as especulações dos servidores de que o esvaziamento do hospital serve a outro interesse.
A diretora do Sind-Saúde/MG também contesta a transferência dos usuários e critica a falta de transparência da Fhemig. “A reunião que determinou o esvaziamento do Galba foi feita com a polícia militar e os bombeiros, mas sem nenhum representante dos trabalhadores da saúde. Estamos percebendo a Fhemig tomando decisão de cima para baixo sem consultar os principais interessados e quem de fato entende sobre saúde pública. Está ocorrendo uma superlotação do Instituto Raul Soares ao mesmo tempo que uma desospitalização de usuários que demandam internação” questiona Neuza.
Neuza se refere a reunião realizada na Cidade Administrativa no dia 23 de março em que o esvaziamento do HGV foi tratado. No documento assinado pela diretora assistencial da Fhemig, Lucinéia Maria Queiroz Carvalhais, aponta que os 200 leitos do Hospital Galba Veloso seria destinado à retaguarda do atendimento do COVID-19. O ofício também faz menção aos CAPS e os pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossocial como alternativas de acolhimento dos usuários do Galba.
Em 2018 servidores resistiram ao fechamento da unidade ortopédica que até hoje está abandonada.
No vídeo abaixo a unidade ortopédica desativada desde 2018 que poderia abrigar quase 100 leitos para a pandemia, além de retomar um atendimento hospitalar necessário em Minas Gerais:
Leitos no Julia
Um dos argumentos repassados ao Sindicato como necessidade de liberação dos leitos psiquiátricos para o atendimento à pandemia seria a superlotação de unidades como o Hospital Julia Kubitschek que já atua como retaguarda do Hospital Eduardo de Menezes. O cenário do Julia contrasta com a alegação recebida do governo. Três enfermarias completamente vazias e a urgência e emergência registrando pouquíssimos atendimentos. A diretora do Sind-Saúde Neuza Freitas que esteve no Julia nesta terça-feira (31/03) afirma que além da estrutura já montada no hospital, o recurso enviado para ampliação de leitos poderia ser realocado para abrir leitos que as obras foram abandonadas.
“Temos no Julia duas enfermarias que somariam mais 100 leitos mais um CTI que até hoje não terminou a reforma com mais 40 leitos. São obras paralisadas desde 2010. Se investiria uma reforma no hospital Galba Veloso que geraria essa série de questões no sistema de saúde, porque então não investir no Julia e terminar as obras para as necessidades de leitos que eles dizem ter no Galba,” questiona.
Com as denúncias dos trabalhadores ao MPMG, a Promotoria encaminhou à Justiça um pedido para que, em 48 horas, sejam tomadas as medidas necessárias para restabelecer totalmente o atendimento à saúde mental no hospital, bem como para proibir a adoção de medidas que interrompam, suspendam ou reduzam os atendimentos no local. Caso a Justiça atenda aos pedidos urgentes, Estado e Fhemig estarão sujeitos à multa diária de R$ 1 milhão, se descumprirem a decisão.
Trabalhadores mantêm mobilização para que o hospital não seja fechado