Ensino a distância em enfermagem
Quase 50mil vagas de cursos a distancia na área da enfermagem coloca perspectiva drástica no atendimento à saúde
A enfermagem pressupõe contato, mas a proposta de ensino a distância (EaD) cresce no Brasil e preocupa profissionais da área, entidades ligadas à saúde, militantes e pesquisadores da saúde. O tema foi debatido em audiência pública na Assembleia Legislativa (ALMG) na tarde desta quarta-feira (23/06) e também é objeto no Projeto de Lei federal 2.891/15, que obriga o curso presencial na enfermagem. O auditório lotado de profissionais e estudantes mostrou a categoria participativa no debate sobre a formação.
O Brasil tem hoje 46.780 vagas de EaD espalhados em 938 polos, com uma expansão de quase 80% nos últimos cinco anos. Para a conselheira do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Dorisdaia Carvalho de Humerez, deixa a situação ainda mais grave o fato da autonomia das Faculdades que não precisam de autorização do Ministério da Educação (MEC) para abrir cursos a distância. Segundo ela, as visitas feitas pelo Cofen identificaram polos inteiramente ilegais, clandestinos e irregularidades das mais diversas.
Dorisdaia Carvalho de Humerez apresentou dados alarmantes sobre a expansão do EaD e falta de ordenamento
A Unipar e a Anhanguera são as campeãs em aberturas de vagas em ensino a distância em enfermagem. As duas, adquiridas pela empresa norte-amerciana Kroton, ilustram um cenário preocupante segundo o presidente do Cofen, Manoel Carlos Neri da Silva. Para ele, a Kroton tem um programa agressivo de expansão do ensino superior, sem regulamentação nem preocupação com a qualidade da formação que prevalece apenas a lógica do capital.
Os Conselhos de Enfermagem se manifestaram contra a formação a distancia. O presidente do Coren-MG, Marcos Rúbio, reafirmou as críticas do Conselho aos cursos não presenciais e disse ser incompatível para os estudos na enfermagem a falta de contato físico. Nessa mesma linha, o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde da Minas Gerais, Ederson Alves, disse que o CES-MG deve divulgar uma resolução de repúdio ao ensino à distância na enfermagem. “Prezamos a humanização dos profissionais e humanização é presença” sentencia Ederson.
A presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben-MG), Kênia Lara Silva disse que esse tema é o maior desafio da educação em enfermagem. Kênica, que também é professora na UFMG, considerou que a enfermagem pode ser um caminho de transformação do acesso à saúde, mas que para isso, esse profissional precisa ser formado com muita qualidade.
A audiência, convocada pelo deputado Celinho do Sintroccel, também sinalizou para as pautas importantes da saúde como redução da jornada de trabalho sem redução salarial e a criação do piso da enfermagem. A faixa do Ocupa-SUS também foi estendida no local para chamar atenção para a luta nacional em defesa da saúde e contra o golpe.
A diretora do Sind-Saúde/MG, Neuza Freitas, esteve na audiência e convocou todos(as) que lotaram o teatro da ALMG para participarem das atividades do Ocupa-SUS.