Relatório técnico entregue ao TJMG constata sobrecarga do SUS com fechamento do Amélia Lins

A desativação progressiva e, posteriormente, total do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), confirmada em janeiro de 2025, trouxe consequências diretas e preocupantes para o sistema público de saúde gerido pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). De acordo com um extenso relatório técnico de análise de dados produzido pelo advogado do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG), dr. Gilmar Dias Viana, a sobrecarga imposta ao Hospital João XXIII (HJXXIII) — principal referência em urgência e emergência do estado — ameaça a qualidade e a segurança do atendimento à população.

O documento, baseado em dados da Diretoria de Contratualização e Gestão da Informação (2022-2025), aponta uma perda líquida de 24,4% na capacidade assistencial do complexo hospitalar desde a desativação do HMAL. O número de leitos operacionais caiu de 376 para 284, enquanto a demanda por internações e altas permaneceu praticamente estável. Com isso, o HJXXIII viu sua taxa de ocupação ultrapassar os 119%, operando sistematicamente acima da sua capacidade instalada.

“A operação contínua em sobrecarga, aliada à redução da média de permanência dos pacientes, sugere possíveis altas antecipadas para liberação de leitos”, alerta o relatório.

Ainda segundo a análise, a transferência de pacientes do HMAL — que atendia casos de menor complexidade — para o HJXXIII provocou um “efeito de diluição” nas taxas de infecção e mortalidade deste último, mascarando indicadores que poderiam apontar agravamentos no cenário assistencial.

Além disso, o relatório destaca que a capacidade cirúrgica do HJXXIII foi ampliada significativamente desde 2024. O volume de cirurgias aumentou 65% entre 2022 e 2025, sem que houvesse expansão proporcional de leitos ou recursos humanos, acentuando o risco de colapso assistencial.

“A desativação do HMAL, longe de representar um simples ajuste estrutural, gerou um déficit crítico de atendimento, concentrando a pressão sobre o HJXXIII e comprometendo a sustentabilidade do sistema”, conclui o documento.

O estudo recomenda com veemência a reabertura do HMAL como medida urgente para reequilibrar o fluxo de pacientes, restabelecer a especialização das unidades e garantir qualidade e segurança no atendimento à população mineira.