Condições de Trabalho em Lagoa Santa

Em Seminário, secretário municipal de saúde firma compromisso de criar Mesa de Negociação do SUS

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Realizado pelo Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG), o Seminário Condições de Trabalho e Saúde discutiu com os trabalhadores de Lagoa Santa a causa de adoecimentos no trabalho e as formas de prevenção para profissionais da área da saúde. O encontro aconteceu na tarde da última sexta-feira (25) no Hotel Ramada. Já na mesa de abertura, o secretário municipal de saúde Gilson Urbano Araújo se comprometeu com a criação da Mesa Municipal de Negociação do SUS, uma antiga reivindicação dos trabalhadores para buscar melhorias nas condições de trabalho.

As condições de trabalho têm um impacto na saúde mental e nas motivações para o trabalho. Essa é uma das observações trazidas pela mestre em psicologia social Georgina Motta que participou da primeira palestra do Seminário. Georgina dividiu em quatro as categorias para avaliar as condições de trabalho. A primeira são as contratuais e jurídicas, que são efetivamente as relações com o empregador como salário, férias, benefícios, licenças; a segunda são as físicas e materiais como local adequado para o trabalho, ventilação, segurança; a terceira categoria são os processos e características de atividade, Georgina exemplificou no caso da saúde a necessidade de atendimento imediato e pressão para soluções emergentes no atendimento; e por fim, como quarta categoria está o ambiente sociogerencial, que diz sobre as relações interpessoais no trabalho.


25 Seminario LagoaSanta CondiçaoSaude Georgina

Georgina trouxe dois exemplos pesquisados no Rio Grande do Norte em que aponta que a falta de autonomia predispõe o adoecimento. A exigência desproporcional que pressiona o trabalho sem oferecer condições mínimas de exercer a função é uma das causas mais questionadas pelos trabalhadores na pesquisa. Um uma outra pesquisa, Georgina mostra a consequência desse cenário de falta de condições de trabalho que é uma crescente desmotivação laboral ao longo de sete anos.

Para a assistente social Andreza Almeida, que também compôs a mesa de palestra, o modo como trabalhamos está alinhado às escolhas políticas. Andreza refletiu sobre a linha de pensamento sociológica sobre o trabalho. Andreza chama atenção para a banalização da injustiça social que leva também ao risco de naturalização do assédio moral. Para ela, o estresse, pressões produtivas e conflitos interpessoais são formas de mal-estar no trabalho.

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Um dos graves motivos que também leva ao adoecimento é o assédio moral. Somente em 2018 mais de mais 56 mil ações sobre o assunto foram ajuizadas na Justiça do trabalho. Andreza Almeida alerta que esse número pode ser muito maior já que muitas pessoas têm receio ou não dão conta de denunciar as práticas abusivas. A palestrante apontou para maneiras de identificar o assédio moral e as ações para combatê-lo. “Muito importante registrar tudo que está acontecendo, em um caderno, compartilhe com colegas para tirar do invisível. Evite conversas particulares com o assediador e procure o sindicato. Trabalhar no coletivo vai dar mais força para enfrentar o assédio,” pontuou.

Durante o espaço para fala, muitos trabalhadores apresentaram relatos de assédio moral e situações de dificuldade que enfrentam no dia a dia do trabalho. 

O cuidado com que cuida
Na segunda roda de palestra do dia, a engenheira de segurança do trabalho Marta de Freitas levantou um dado preocupante: 25% de toda a ocorrência de violência no trabalho realizada vem da área da saúde. Além disso, os acidentes no trabalho também têm números elevados, acidentes com perfurocortantes agentes químicos e físicos lideram a lista que é enorme.


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Para além do ambiente de trabalho, Marta afirmou que o contexto social e político exigirá que os trabalhadores lutem pelas condições de trabalho. “A panela de pressão está aí: congelamento dos salários, aumento da alíquota da previdência e ataque aos serviços públicos. Temos que agir e transformar essa realidade que vem vindo. É preciso sair da invisibilidade, ter orgulho do SUS e cobrar condições de trabalho necessárias para implementar a saúde pública que queremos”, apontou Marta de Freitas.

Exemplo de Belo Horizonte
Ao final, os participantes tiveram acesso ao protocolo elaborada na capital mineira para conter as diversas formas de violência que chegam no dia a dia do trabalho na saúde. A secretária da Mesa-SUS/BH e diretora do Sindibel Ilda Alexadrino falou sobre a experiencia de Belo Horizonte na implementação do protocolo em 2016. Em 2019 o protocolo passou por uma revisão devido ao aumento de casos notificados. Somente em dezembro de 2017 a janeiro de 2018 mais de 500 casos foram notificados. A capital chegou a fechar um centro de saúde durante um período por causa do número de violências.

Ilda acredita que os dados ajudam a contabilizar as ocorrências para desenvolver ações estruturadas. Ela diz que as informações geradas são discutidas mensalmente. Além do protocolo que estabeleceu um fluxo de atuação na abordagem da violência, Ilda Alexadrino insiste que não se pode abrir mão de preencher o CAT, que é um direito do trabalhador vítima de violência.

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Ilda mostrou as etapas do protocolo sobre violência na saúde implementado em Belo Horizonte


Mesa SUS em Lagoa Santa
O Seminário foi realizado pelo Sind-Saúde e recebeu apoio da prefeitura. Durante a abertura do encontro, o secretário municipal de saúde selou o compromisso de criar a Mesa Municipal de Negociação do SUS, anúncio que foi comemorado pelos trabalhadores presentes. Segundo Gilson Urbano, a gestão chamará uma reunião com o Sind-Saúde e irá publicar a portaria em um prazo de 15 dias. Convidada para a abertura do Seminário, a Secretária executiva da Mesa SUS Betim Elizabete da Silva, afirmou que a instância é uma potente ferramenta para gestão do trabalho. Elizabete da Silva se coloco a disposição para ajudar na implementação da Mesa.

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O Seminário Condições de Trabalho e Saúde teve como ilustração do tema girassóis e abelhas. A diretora do Sind-Saúde Lionete Pires, organizadora do evento, explicou o motivo da escolha. “O girassol é fascinante, ele procura a luz o tempo todo. E nesse cenário que estamos vivendo de retirada de direitos e ataque ao SUS o girassol é um símbolo da resistência e resiliência. Por outro lado, sem abelha não tem polinização, sem polinização não tem comida, sem comida não tem vida. É para gente buscar essas alternativas”, refletiu Lionete.

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