“Nossas vidas valem mais”

Centro de Belo Horizonte é ocupado pelas lutas do 8 de Março

08 manifestação mulheres foto rogerio hilario

Foto: Rogério Hilário/CUT


Fonte: CUT-MG

Depois de se concentrar em dois atos na Praça Raul Soares e na Praça da Estação, milhares de mulheres e apoiadores se uniram e tomaram o Centro de Belo Horizonte, na noite de sexta-feira (8), Dia Internacional de Luta das Mulheres. As manifestações, convocadas pelas Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, a Marcha Mundial de Mulheres, com apoio da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), centrais sindicais, movimentos sociais, estudantis e lideranças políticas, tiveram os emas “Mulheres em luta: o lucro não Vale a Vida”, “Nossas vidas valem mais” e as lutas contra a violência, simbolizada pelos feminicídios e o assassinato de Marielle Franco, a reforma da Previdência, entre outras agendas . Os protestos irão se encontraram na Praça Sete, por volta das 19 horas, quando um manifesto foi lido um manifesto escrito conjuntamente entre as mulheres.

No texto, as mulheres ressaltaram as diversas pautas que unificam as manifestações nesta data. Entre os pontos de destaque estão a punição da Vale por seus crimes contra a vida e o meio ambiente, a memória de Marielle e a justiça ao assassinato até hoje sem resposta, a oposição ao governo neofascista de Bolsonaro, à reforma da previdência às privatizações e a liberdade de Lula.

Na saída da “Povo Sem Medo”, houve o lançamento do livro “Guaicurus – A Voz das Putas”, uma obra coletiva, escrita por trabalhadoras sexuais, uma realização da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). O cortejo contou com a Fanfarra Feminina Sagrada Profana.

Já a manifestação da Frente Brasil Popular, que saiu da Praça Raul Soares, contou com uma grande bateria composta com quase 300 mulheres, de 40 blocos de carnaval. O cortejo político começará com o soar da sirene que deveria ter tocado no rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro. Mulheres atingidas pela lama estiveram presentes na praça e na marcha até a Praça Sete e à Praça da Estação. Duas alas que se contrapõem carregaram mensagens políticas do ato. A primeira, com simbologias do lucro e da morte, foi de denúncias. Em seguida as mensagens da importância de um projeto popular para o Brasil representarão a vida, a luta, a preservação da natureza.

Ainda durante o ato foi lançado e cantado o hino “Terra, Cultura e Pão”, composto pelas artistas Bia Nogueira, Bruna Camilo, Esther Maria, Maíra Baldaia e Táskia Ferraz. A manifestação encerra na Praça da Estação terminou por volta das 21h30.

Leia manifesto na íntegra:

Nossas vidas valem mais do que o lucro

Nós, mulheres de BH estamos nas ruas lutando por nossas vidas. Vidas que são desrespeitadas todos os dias pelo Estado, pelo Capital e pelos homens. Há mais de cem anos, mulheres na Rússia foram às ruas lutar por pão, paz e terra. Hoje, seguimos lutando por nossos direitos e permaneceremos enquanto for preciso. Até que todas sejamos livres.

Feministas contra o racismo, feministas contra o capital!

Feministas contra o machismo e o capitalismo neoliberal!

Quem somos? Somos mulheres. Mulheres de todos os tipos, todas as raças e procedências. Somos coloridas. Amamos a vida e lutamos por ela, nas nossas mais diversas orientações sexuais. Somos jovens e idosas, gordas e magras, altas e baixas, estamos empregadas e desempregadas, somos mulheres de diferentes religiões e sem religião: somos multiplicidade em movimento e somos força coletiva. Somos sem teto, sem-terra, atingidas por barragens. Somos mulheres que choram por seus filhos violentados e assassinados. Amamos a beleza da vida, o respeito às diferenças, a igualdade de direitos. Somos militantes sociais.

ENQUANTO MORAR FOR UM PRIVILÉGIO, OCUPAR É UM DIREITO.

O Brasil atravessa uma grave crise política, econômica, social, ética, ambiental. É a crise do capitalismo neoliberal implantado no Brasil que, na ânsia de aumentar a usina do lucro, investe sobre as precárias políticas públicas conquistadas em lutas históricas da classe trabalhadora. Nesse cenário, nós somos as mais afetadas. A violência invade o nosso cotidiano, restringindo individual e coletivamente nosso direito à vida, a uma vida digna. É este projeto de morte que o governo Bolsonaro estimula e aprofunda. Não aceitaremos retrocesso nos nossos direitos duramente conquistados!

NOSSAS VIDAS VALEM MAIS – ELE NÃO!

Em Minas, as mineradoras e o agronegócio estão em todo o território, poluindo, adoecendo, destruindo e degradando. Aprimorar as tecnologias das barragens não muda a lógica destruidora da economia centrada na exportação de matéria prima, que destrói e degrada o ambiente deixando para trás, morte e destruição. O rompimento das barragens é o alerta que denuncia este modelo de subdesenvolvimento voltado para o lucro de uma minoria capitalista, racista e patriarcal.

NÃO FOI ACIDENTE! VALE MATA RIO, MATA PEIXE, MATA GENTE.

As mulheres mineiras se mobilizam em defesa da vida, do ecossistema, contra os desmandos dos governos e das grandes mineradoras. Se mobilizam para não deixar impune os crimes dessa empresa que destrói a natureza, mata trabalhadoras e trabalhadores, dizimam populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas povos que mantem e preservam a mãe terra. Os governos e as grandes mineradoras retiram o brilho de tudo que vive, o pão de nossas mesas, a vida de nossas terras, as águas de nossos rios.

AI, AI, AI EMPURRA O MITO QUE ELE CAI.

A reforma da Previdência, que está em tramitação no congresso nacional, mostra o total desprezo para com o povo. Caso aprovada, não sobrará pedra sobre pedra dos direitos previdenciários e assistenciais. Prevê a extinção da Previdência Social para a trabalhadora e o trabalhador, que estarão vinculados a uma previdência privada, transformando a aposentadoria em uma mercadoria. Isso quer dizer que nossas contribuições serão negociadas na bolsa de valores, sujeita às crises do sistema financeiro e, portanto, não estarão asseguradas para a nossa aposentadoria.

NÃO VAMOS TRABALHAR ATÉ MORRER.

As mulheres são as mais atingidas já que somos a maioria entre as pessoas desempregadas, somos as que ocupam os empregos precários e informais, sem carteira assinada, sob dupla e tripla jornada, com uma situação de instabilidade no mercado de trabalho onde entramos e saímos, devido aos cuidados com espaço doméstico. Entre o emprego e o desemprego, como contribuir por 40 anos? Com todas as dificuldades de nossas vidas, como trabalhar por 40 anos sem parar? Aposentadoria e um direito que temos ao sustentar a economia com o nosso trabalho. Por isso a Previdência social tem de ser publica, universal e solidária.

APOSENTADORIA NÃO É MERCADORIA.

A concorrência e o individualismo ocupam cada vez mais os espaços de nossas vidas e estimulam o ódio. O ódio se dissemina, assume uma lógica sistêmica e crescente contra as mulheres. Nos mata. Convivemos com a violência domestica e nas ruas. Quando queremos ter filhos ou quando não queremos. Nesse moinho das agressões, a violência se desdobra da dimensão psicológica ao assassinato. Não aceitamos os velhos argumentos que justificam as agressões: descontrole, intensa emoção, paixão e ciúmes. Sobretudo as mulheres negras, travestis e transexuais são alvos privilegiado de práticas perversas e assassinas.

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NÃO É O MUNDO QUE A GENTE QUER.

Vamos garantir o direito de sermos livres e donas de nossos corpos, sem nenhuma interferência de fundamentalistas de qualquer natureza. Marchamos pela construção de um novo marco de sociabilidade que seja antirracista, anti-homofóbica e anticapitalista.

Seguimos os passos de Marielle: mulher negra, lésbica, parlamentar socialista, ex-moradora na favela da Maré e liderança destacada na defesa dos direitos humanos e denúncia do genocídio – foi assassinada porque ousou se erguer na defesa de seu povo. Marielle e imensa e aponta o caminho onde seguimos de mãos dadas.

MARIELLE! PRESENTE

Os tambores de Minas soarão, com nossas vozes que repercutirão nas casas, nas ruas. E cantamos com a forca de nossas vidas, de nossa ancestralidade:

“Atenção para o refrão

É preciso estar atenta e forte

Não temos tempo de temer a morte”