Preocupação com fechamento de leitos da UTI do João Paulo II marca audiência

Lugar está em reforma e crianças foram transferidos para João XXIII, mas parlamentares e trabalhadores temem demora na retomada das unidades do hospital infantil

Parlamentares e profissionais da saúde temem que a reforma da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil João Paulo II, na Capital mineira, feche leitos pediátricos no Estado e precarize a rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Eles participaram de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta segunda-feira (1º/9/25).

A reunião é um desdobramento de visita técnica da Comissão de Administração Pública, ocorrida na última sexta (29) para apurar como foi a transferência de 16 leitos pediátricos da UTI do João Paulo II para o Hospital João XXIII em função das obras e, ainda, verificar o andamento das intervenções.

Para a presidenta da comissão, deputada Bella Gonçalves (Psol), a situação é grave, sobretudo, por se tratar de crianças.

“Imagina a angústia dos pais com o adoecimento de um filho. Imagina como isso é potencializado quando a criança é deslocada para outro hospital por causa de uma obra. Quando ações repentinas acontecem isso pode sinalizar outra coisa”, refletiu a deputada Bella Gonçalves.

Conforme acrescentou, em Minas prospera a ideia da privatização e do desmonte da saúde pública. Concordou com ela a deputada Beatriz Cerqueira (PT). “Já vimos isso antes. Tudo começa com uma obra. De repente, já não é isso mais. É uma outra iniciativa que pode precarizar a saúde”, afirmou.

Ela garantiu atuação no processo de acompanhamento e fiscalização da obra, prevista para acabar em 22 de outubro.

Situação do João Paulo II vai repetir a do Hospital Maria Amélia Lins?
O deputado Lucas Lasmar (Rede), autor do requerimento para a audiência junto com as outras duas parlamentares, se posicionou a favor de melhorias no João Paulo II.

Apesar disso, demonstrou preocupação com a possibilidade de a situação ir ao encontro do que ocorreu no Hospital Maria Amélia Lins, onde cerca de 60 leitos foram desativados para a realização de obras e, oito meses depois, ainda não foram retomados.

Ainda de acordo com ele, em visita realizada ao local na última sexta (29), deputados presentes apuraram que houve redução de seis leitos pediátricos de UTI ao todo.

Como salientou, o João Paulo II é o maior hospital público infantil do Estado, sendo referência em tratamento de doenças infectocontagiosas, genéticas e neuromusculares, entre outras.

O deputado também destacou que, em função desse tipo de medida, o Hospital João XXIII tem lidado com uma sobrecarga imensa.

“Não podemos permitir isso. O João XXIII é especializado em urgência e emergência de alta complexidade”, afirmou.

A promotora de Justiça da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, contou que instaurou procedimento para apurar o fato.

“Esse cenário de sucateamento e precarização na Fhemig nos traz a preocupação de que uma obra para melhoria vá para outro caminho depois”, destacou.

Servidores reclamam de falta de transparência e diálogo
Além de demonstrarem preocupação com um possível sucateamento da rede Fhemig, trabalhadores da saúde também reclamaram da falta de transparência e diálogo em relação à reforma por parte do governo.

Segundo Ana Paula Tavares, técnica de enfermagem do João Paulo II, onde trabalha no setor de urgência, ela só soube da reforma do espaço após ver a movimentação de transferência de pacientes.

“Como fazem isso sem comunicar a todos? A UTI está interligada a tudo. Na urgência mesmo, recebemos pacientes graves que podem precisar da unidade”, indaga a técnica de enfermagem do João Paulo II Ana Paula Tavares.

A diretora executiva do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde/MG), Neuza Freitas, endossou a fala anterior. Ela contou que os profissionais receberam um comunicado via whatsapp após a iniciativa ter sido realizada.

De acordo com o integrante do Conselho Estadual de Saúde (CES-MG) e também diretor executivo do Sind-Saúde/MG, Renato Barros, o conselho não foi envolvido na discussão. “Isso demonstra desrespeito às prerrogativas do conselho”, disse.

Informações da ALMG