Fórum alternativo exige políticas públicas para combate da fome mundial

“Precisamos de políticas públicas que coloquem os que produzem a comida do mundo no centro”, é o que exigem os organizadores do Fórum “Soberania alimentar dos povos já!”, realizado em Roma, de sexta (13) até amanhã (17). A proposta é pensar soluções para a crise alimentar que afeta a mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O fórum é uma alternativa à oficial Cúpula Mundial sobre a Segurança Alimentar, das Nações Unidas, também realizada em Roma, de hoje até quarta.

Segundo a organização internacional Via Campesina, há 1,4 bilhões de pequenos agricultores no mundo produzindo, aproximadamente, 75 % das necessidades alimentares de todo o globo. “Podemos cobrir 100 % das necessidades alimentares do mundo através da agricultura camponesa, da produção de gado e da pesca artesanal”, defendeu em nota.

“Precisamos de políticas públicas que coloquem os que produzem a comida do mundo no centro e incluam a sua participação ativa. As medidas devem ser adotadas para obter a soberania alimentar dos povos, e o direito de controlar seus recursos naturais devem ser respeitados”, posicionou-se.

 

Para os organizadores do fórum alternativo, a crise alimentar está diretamente ligada à concentração da produção agrícola e pecuária em grandes latifúndios, o que prejudica a produção de caráter familiar.

Os realizadores do fórum alternativo apontam as multinacionais do setor como os principais culpados pela atual crise alimentar mundial. O informe da Via Campesina rechaçou as posturas de empresas como a Nestlè, que, durante a conferência do setor privado e da FAO, na última quinta (12), em Milão, propuseram soluções para a crise alimentar.    

“Muitas transnacionais têm aumentado seus benefícios durante a crise alimentar e têm feito um papel principal ao incrementar a fome no mundo através da tomada de controle sobre sistema alimentar e dos recursos produtivos, como a terra e a água”, considerou.

Segundo a organização, os grandes grupos do setor têm introduzido tecnologias, o uso de agrocombustíveis e transgênicos “com o único interesse de incrementar seus benefícios”.

Por outro lado, além de poluir menos o planeta, “a produção da agricultura em pequena escala é suficiente para alimentar o mundo”, garante a Via Campesina. De um bilhão de pessoas que padecem de fome no mundo, cerca de 80% são pequenos agricultores e funcionários rurais que não conseguem sobreviver do seu trabalho.

O fórum é uma alternativa à oficial Cúpula Mundial sobre a Seguridade Alimentar, também realizada em Roma, de hoje (16) até quarta (18), pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês). A FAO integra a Organização das Nações Unidas (ONU).

Mudanças no CSA

Durante a abertura do fórum alternativo, no dia 13, o relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Oliver de Schutter, falou sobre a reforma do Comitê de Segurança Alimentar (CSA), cujas decisões eram restritas aos chefes de Estado. A nova composição permitirá a participação da sociedade civil, do setor privado e de outras entidades internacionais. As mudanças no CSA foram aprovadas pela FAO em 20 de outubro deste ano.    

Oliver pediu atenção para a aplicação das medidas aprovadas no CSA, já que o Banco Mundial será o responsável financeiro pela execução de parte delas. Com seus impulsos às políticas neoliberais, o Banco Mundial tem gerado pobreza no mundo, especialmente no setor rural, enfatizaram os organizadores do fórum. 

O Comitê da FAO ainda irá incluir organizações representam pequenos agricultores familiares, pescadores, sem-terra e indígenas, além de instituições de pesquisa, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), os bancos de desenvolvimento regional e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Cúpula da ONU

A Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar se iniciou hoje (16), em Roma, sem posições concretas para a redução da fome no mundo. Apesar da meta das Nações Unidas, de diminuir a fome mundial pela metade até 2015, os participantes reconheceram que não há métodos claros e preciso para a execução da medida. A cúpula é organizada pela FAO, órgão da ONU. 
      
Segundo divulgado na TeleSur, o prefeito de Roma, Gianni Alemanno, reconheceu, ontem, a dificuldade de reduzir a fome à metade até 2015. Para ele, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), proposta das Nações Unidas, constituem uma “desilusão”, já que “não dá indicações concretas sobre como alcançar esse objetivo e, tampouco, põe à disposição recursos adequados”.     

“A cada cinco segundos, falece uma criança dos seis milhões que perdem a vida todos os anos, por falta de acesso aos alimentos”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Somente hoje, mais de 17 mil meninos e meninas morrerão de fome, lamentou. 

Fonte: Adital