Fechamento do Hospital Maria Amélia Lins impacta sistema de saúde da capital
Ausência da Fhemig em reunião será levada a conhecimento da presidência da CMBH e do secretário de Estado do Governo
A Comissão de Saúde e Saneamento irá organizar uma visita ao Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) reunindo vereadores, deputados estaduais, federais e representantes do Ministério do Trabalho. O objetivo é verificar o andamento de obras e a possibilidade de reabertura da unidade de saúde. O encaminhamento foi definido na tarde desta quarta-feira, (19/2), durante audiência pública realizada a requerimento dos membros do colegiado, os vereadores José Ferreira (Podemos), Maninho Félix (PSD), Dr. Bruno Pedralva (PT), Helinho da Farmácia (PSD) e Neném da Farmácia (Mobiliza). Segundo Dr. Bruno Pedralva, será levada ao conhecimento do Presidente da CMBH, Professor Juliano Lopes (Podemos), e do secretário de Estado do Governo, Marcelo Aro (PP), a ausência de representante da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) nas discussões.
“Nós entramos em contato com a Fhemig e fomos informados de que a direção estava ciente da audiência, mas decidiu não comparecer. A Lei Orgânica estabelece como obrigação dos gestores públicos virem a essa Casa prestar contas. Vamos reportar essa omissão”, afirmou o parlamentar.
Um efeito cascata foi observado em outras unidades de atendimento público da capital. De acordo com estudo apresentado por Pedralva, os pacientes que deixaram de ser atendidos no HMAL se deslocaram para outros hospitais de Belo Horizonte (São Francisco, da Baleia, Santa Lúcia, Célio de Castro, Ciências Médicas e João XXIII). Com a carga adicional, essas instituições não conseguiram absorver pacientes das UPAs. “Paralelamente a isso tivemos um aumento de 285% nos registros de acidentes com fraturas nas UPAS. A PBH, na semana seguinte, fechou a fila de cirurgias eletivas na cidade. Quase 1400 cirurgias deixaram de ser realizadas para desafogar as UPAs e fazer as cirurgias de urgência”, relatou o parlamentar. Desde 4 de fevereiro os procedimentos suspensos foram retomados, entretanto a demora no atendimento continua.
Intensificador de imagens
Andrea Fontenelle, diretora clínica do Hospital Maria Amélia Lins, relatou que esta é uma unidade de referência em ortopedia, que atende cirurgias eletivas e urgências programadas. “Nossa residência de ortopedia e traumatologia recebe médicos residentes de todo o país. O ambulatório atende cerca de 3 mil pacientes e realiza 250 cirurgias ortopédicas por mês. Somos a unidade da Fhemig com maior índice de eficiência”. Entretanto, a partir de problemas com o intensificador de imagem, importante equipamento para a realização de cirurgia ortopédica, os funcionários observaram um desmonte da instituição. “O primeiro arco cirúrgico do intensificador foi danificado em agosto e o segundo foi danificado em dezembro. As cirurgias que não demandam arco cirúrgico continuavam, até que o hospital foi fechado, com a justificativa de que o João XXIII daria conta da demanda”, disse.
Moto por aplicativo
De acordo com Carlos Calazans, superintendente do Ministério do Trabalho, o fechamento do HMAL ocorreu em um momento em que se registra aumento no número de acidentes com motos. “Atualmente 120 mil trabalhadores rodam como motorista de moto por aplicativo em Belo Horizonte, a maioria com idades entre 18 e 25 anos. Enquanto se discute a regulamentação da atividade para evitar tantas tragédias, tivemos a notícia de fechamento do HMAL”, disse. Calazans convocou uma reunião com a Fhemig e o secretário de Estado da Saúde, Fábio Baccheretti. “Não se fecha um bloco cirúrgico por causa de um equipamento que quebra. Isso não existe. O que buscamos saber nessa reunião é se o fechamento era provisório ou definitivo. A resposta que tive do governador Romeu Zema e de Fábio Barchetti é que o HMAL volta a funcionar ainda no mês de março. Espero que a palavra oficial do governo seja cumprida”, destacou.
Entretanto, Andrea Fontennele e Jordani Campos Machado, diretor-presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, asseguraram que as obras estão paradas e, dessa forma, o governo não conseguirá cumprir o prazo prometido. “Fiz residência há 32 anos no HMAL e posso afirmar que é um centro de referência mundial em ortopedia. É um erro fechar um serviço que funciona tão bem”, disse Jordani. O médico explicou que as cirurgias ortopédicas são mais demoradas. “Não se trata de atender muito, mas de operar com qualidade, resolutividade. Uma cirurgia ortopédica feita na hora certa pode evitar muitas complicações. Além disso, sabemos que o João XXIII não dá conta de atender a demanda”, alertou.
Carnaval
Cláudia Regina, técnica de enfermagem do Hospital João XXIII relatou que os dois hospitais (HMAL e João XXIII) atuavam de maneira complementar. “Aconteceu um acidente, o paciente vai para o pronto-socorro e, se necessário, segue para o HMAL a fim de concluir o tratamento”. Agora, o paciente é orientado a retornar para o João XXIII. “Onde está o respeito por esse paciente? Carnaval está chegando e são esperados em BH 6 milhões de foliões. Como o João XXIII vai dar conta dessa demanda?”, questionou.
Sucateamento
Angela Eulália dos Santos, do Conselho Municipal de Saúde, afirmou que a intenção do governo estadual é “sucatear e depois fechar”. Segundo ela, a direção da Fhemig vem sendo omissa intencionalmente em concordância com as diretrizes do governo do Estado. Para Neuza Freitas, do Sindsaúde, o fechamento do HMAL não começou em dezembro. “Há dois anos a enfermaria do hospital foi fechada. O bloco cirúrgico não está em reforma. Eles inventaram uma reforma. Além de estarmos preocupados com os pacientes, estamos também preocupados com a situação dos trabalhadores, muitos adoecidos”, lembrou. Luana de Souza, assessora parlamentar da deputada Dandara (PT), relatou uma visita ao Hospital e se disse surpresa com a justificativa de reforma no bloco cirúrgico. “O que existe é um sucateamento”, resumiu.
Foram encaminhados questionamentos sobre a quantidade de cirurgias canceladas e a fila de espera por uma cirurgia à gerente adjunta da Regulação do Acesso Hospitalar da Prefeitura de Belo Horizonte, Renata Bastos Peres. “Temos compromisso com os usuários do SUS e vamos verificar esses dados”, disse Renata. Ela também assegurou dar atenção à situação de pacientes presentes à audiência que relataram interrupção de tratamento ortopédico devido ao fechamento do HMAL. A coordenadora da Câmara Técnica de Controle, Avaliação e Municipalização do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Núbia Dias, alertou para a situação de pacientes que aguardam procedimentos específicos na cabeça e pescoço. “Temos um tempo de espera de 158 meses para cirurgia de cabeça e pescoço enquanto o hospital que faz esse tipo de cirurgia (HMAL) está parado”, advertiu.
Encaminhamentos
Além da visita conjunta e da notificação sobre a ausência da Fhemig a ser encaminhada ao presidente da CMBH e ao secretário de Estado do Governo, também foi definido pedido de informação à Fhemig e à Prefeitura sobre número de cirurgias suspensas e fila de espera para procedimentos cirúrgicos na capital.
Fonte: CMBH