Participe do Dia Nacional da Luta Antimanicomial nesta sexta-feira
Fonte: Fórum em Defesa do SUS-MG
Carnaval – manifestação, dia 18 de maio, concentração 13 horas na pça sete B.H!
Nesse Dezoito de Maio, nossa manifestação revisitará a história para reafirmar o direito à vida em plenitude e para sustentar os princípios do Sistema Único de Saúde, considerando em seu conceito amplo, o direito ao trabalho, lazer, moradia e cultura. Esta escolha vem no sentido de fortalecer a construção de um outro mundo possível, mais justo, igualitário e acessível a todos, corroborando para as transformações sociais pelas quais lutamos. Um sistema único sensível à diferença, para que seja cada vez mais sensível em seu fazer.
No ano de 1987, no histórico encontro dos trabalhadores em Bauru, o Movimento da luta Antimanicomial escolheu no calendário nacional, uma data para marcar e reafirmar o sentido de sua existência: “por uma sociedade sem manicômios”. Ficou estabelecido o Dezoito de Maio como o dia Nacional da Luta Antimanicomial, para sinalizar o correr da luta para uma conquista inadiável: O espaço para a loucura na cidade e na cidadania.
Belo Horizonte cumpre esta agenda desde então, provocando o pensamento para abrir espaço á implantação da ousada política de saúde mental em rede, produzindo as primeiras mudanças e evidenciando a viabilidade de tal intento.
Em 1997, quando a loucura já transpirava e circulava em outro cenário, aconteceu pela primeira vez na cidade a manifestação político-cultural no formato de carnaval, e assim é até hoje.
Os sonhos de liberdade e as proposições para sua realização se expressam de forma lúdica, sensível e crítica, embalados pela Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam, Tam, mobilizando a cidade, intervindo na cena urbana ao provocar reflexões sobre o lugar social da loucura em seu encontro com a arte e o pensamento.
Recolhendo fragmentos dos sambas de enredo dos Dezoitos de Maio, desde 1997 até hoje, trazemos aqui um pouco da tônica desse evento artístico, político e cultural em sua disposição e estratégia na realização da utopia ativa e razão de seu acontecer: Pelo fim dos manicômios.
A organização cronológica não foi uma preocupação nesse caleidoscópio de invenções musicais, mas vamos lá!
Ponho o pé na avenida, de novo prá te encantar, pois todo ano eu passo por aqui, vou cantando em versos o que eu vivi, levando nossa bandeira com seus personagens, pois um caminho já se faz aberto.
E bem me lembro que a história começou com um italiano chamado Basaglia que viu e anunciou que a loucura estaria nas ruas. E desde quando Bispo do Rosário endoidou e sua arte iluminou, tal e qual, trago minha teia para andar livre em meu caminho.
E sendo assim, em minhas vagas e confusas visões, vejo o grande expresso da agonia, trazendo como emblema essa folia: Abram alas para aprender a lucidez perdida pelo abuso da razão.
Abram alas para ver no CERSAM a ousadia de uma janela para o ar, e de quebra, pintar o mundo numa aquarela nos Centros de convivência.
E descrevendo o que acontece , lembro-me de ter experimentado que cabeça é palha que fica acesa noite e dia e quando atrapalha, bota remédio em tanta fantasia…
E nas linhas de frente, nos comícios contra os hospícios, desafiei algumas vozes, dizendo: -Me mostra preto no branco, que eu quero ver a verdadeira mentira aparecer.
E no verso e reverso do sonho por um outro lugar, apostei nas conquistas da nossa luta por delicadeza.
E agora e como sempre, ao contagiar a cidade com alegria e irreverência, afirmamos que em mim e em ti existe solidariedade para vencer a exclusão e olha só, sou mesmo o rei da loucura com muito samba na cintura. E por tudo isso, sou maluco, sou beleza. Sou eu mesmo nesse louco encanto!!
E posso garantir que foi muita luta prá chegar até aqui! Por isso, quando a Liberdade Ainda que Tam Tam entrar na avenida, batam palmas prá nós ,pois os tambores seguirão batucando pelo bem.
Esse é o jogo, o tom, o ritmo e matizes que afirmam que a liberdade faz da vida passarela no Dezoito de Maio em Belo Horizonte e do qual participam(sempre bem vindas) outras cidades de Minas.
Nesse ano de 2012, trazendo como eixo o tema “SUS Tentar a Diferença: Saúde não se Vende Gente não se Prende”, nossa manifestação vai convocar a todos à defesa da saúde como um direito universal e como um dever intransferível do Estado.
Universalidade, integralidade, eqüidade com acesso e controle social são os princípios caros e inalienáveis do SUS, resultado de tantas lutas por um Brasil melhor e para todos!
E nosso desfile/manifestação cantará em verso e prosa, a história e as memórias, os sentidos da luta e as vitórias, somados o desejo de futuro, sem perder o tom, a elegância e nem a crítica que constrói e faz crescer.
E aprendemos que para alcançar as transformações necessárias à vida em sua dignidade, só precisamos de pés livres, de mãos dadas e olhos bem abertos! Então vamos!!
Ala 1- A primeira ala do desfile 2012, contará a história da saúde no Brasil e das lutas populares na construção da cidadania. Uma história cuja continuidade espera pelo seu protagonismo.
“Era uma Época Pouco Engraçada, não tinha SUS não tinha Nada”
No Brasil a construção de políticas de saúde tem início com a preocupação do Estado em controlar a “limpeza” do espaço, principalmente o urbano. Como medida de “saúde”, mendigos, loucos, prostitutas entre outros excluídos, eram rejeitados socialmente e deviam estar longe da visão da população. Além disso, houve uma época em que o governo pensou que para conter a disseminação das doenças era necessário implantar a vacinação compulsória o que deu origem a Revolta da Vacina. Como a saúde ainda não era uma demanda organizada da sociedade, os governos e patrões estendiam esse direito somente aos que tinham emprego formal. Surge então uma contestação social em que os movimentos começaram a se organizar dizendo que a saúde é necessidade básica. Os conselhos distritais, igrejas e movimentos sociais e de base mobilizaram a realidade nacional dizendo da necessidade da construção de um sistema universal de saúde que atendesse às demandas das pessoas. Com organização popular, trabalhadores e usuários ocuparam a VIII Conferência Nacional de Saúde e foi possível pautar e aprovar na constituição brasileira de 1988 a “Saúde como direito de todos e dever do Estado”. Assim, o Sistema Único de Saúde (SUS) é criado e diz que saúde é direito à moradia, trabalho, lazer, educação, além de acesso universal e integral aos serviços de saúde. Hoje temos um SUS jovem que carece de muitos olhares e incentivos, mas que de pouco a pouco caminha e é tarefa de todos dar seguimento à sua construção, todos os dias.
Ala 2: “A Gente não quer só Remédio, a Gente quer Remédio, Diversão e Arte”
Esta segunda ala mostrará que o avanço da medicina moderna, altamente tecnológica, é paradoxalmente, insuficiente para atender a demanda do ser humano, que quer muito mais do que oferece o discurso biologicista e que hegemonicamente se impõe em nossa sociedade. Os serviços e a lógica de atenção idealizadas e sustentadas pelo SUS tentam, muitas vezes com sucesso, desconstruir a lógica medicalizante e hospitalocêntrica que imperou, sem qualquer questionamento no campo da saúde brasileira.
Esse momento do desfile, será a nossa homenagem às invenções do SUS, aos serviços que fazendo a diferença, conseguem ampliar o conceito de saúde para além dos princípios sanitários, em especial, o PSF e os diversos serviços substitutivos da saúde mental, as ações de promoção da saúde como tão bem o fazem os Centros de Convivência, as Academias da Cidade e intervenções ousadas como a Redução de Danos.
Ala 3:“Não quero ser Selado, Avaliado, Ritalinado, Aprisionado pra poder Voar”
A ala das crianças e adolescentes vai cantar e contar para dar conta de que saúde implica diferença: cada um dá sentido à sua vida como é melhor para si, pois os enquadramentos não permitem o singular. Todas as estratégias de aplicar sobre a infância regras que massificam e igualam, negam essa idéia de saúde. Não dá para pensar que a infância ideal é a da bailarina da música do Chico Buarque, que não tem coceira, não tem piolho, não tem namorado… Meninos e meninas andam nas ruas, por vezes dão pum, usam drogas, por vezes detestam a escola e não raro querem fazer música. As medidas de assepsia e controle do comportamento, podem ser vistas como medidas disciplinadoras, de exercício de poder, mas nem sempre visam a melhor saúde ou o desenvolvimento pleno . Para cada um a saúde é de um jeito, e a de todos deve caber dentro do SUS. Meninos e meninas, adolescentes ou crianças, querem afirmar-se no mundo, curtir, zoar, rir, amar. Muitos terão perebas, frieiras, outros terão um irmão meio zarolho e muitos levarão suas marcas pela vida.
Ala 4: “SUS pirado? Pändecer no Paraiso!”
A ala da loucura, tradição nos desfiles da Liberdade Ainda Que Tam Tam, com a beleza e irreverência que lhe são peculiares, irá pändecer, colorir e ousar nos delírios e alucinações por um mundo que reafirma o Sistema Único de Saúde, com todos os seus avanços e conquistas, mas também com mais financiamento e melhor gestão. Nesta miragem do futuro, os efeitos desse sonho iluminará os sons, degustará a cor, e escutará o cheiro do vento que anuncia a importância dos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica na construção de uma sociedade sem manicômios. E para embarcar confortavelmente nesta “viagem”, recorremos a uma citação de G.B. Shaw que diz: Imaginação é o início da criação. Nós imaginamos o que desejamos;nós seremos o que imaginamos; e, no final, nós criamos o que nós seremos. E assim sendo, o mundo pode ser melhor, o SUS vai estar curado dos males que o atingem desde sua criação, que são o sub-financiamento e má gestão.
Ala 5: “É Tempo de não mais se Contentarem com essas Gotas no Oceano”
Esta ala é uma reverência a todos os trabalhadores da saúde, homens e mulheres operadores da política pública ampla e ousada, conquista cidadã do povo brasileiro Rendemos nossa homenagem aos protagonistas imprescindíveis no processo de construção e consolidação do SUS, bem como suas entidades representativas, sindicatos e conselhos de classe, presentes e atuantes nos fóruns de controle social. Sabemos que a utilização dos avanços tecnológicos e da alta tecnologia não substituirá a atuação de um profissional de saúde na função essencial de atendimento àqueles que necessitam de atenção. Acreditamos na tecnologia das relações enquanto garantia do vínculo necessário a uma boa gestão clínica. Trabalhar na saúde é uma opção que se direciona no sentido de uma prática voltada para o cuidado das pessoas em sua diversidade.
Tal prática é potencializada, por sua vez, pela articulação e interlocução dos discursos e fazeres de todas as categorias profissionais que asseguram uma assistência qualificada e diversa, por isso, o trabalho em equipe, uma das estratégias mais importantes no campo da saúde. Transversalizar os saberes buscando a efetividade do trabalho compartilhado, vivo e ampliado, considerando os diferentes aspectos da vida humana, sentido ou razão do trabalho em saúde.
Ala 6:“Sem Saber que era Impossível, ele foi e Fez”
A Sexta e última ala do Dezoito de Maio 2012, traz como tema a liberdade, propondo uma reflexão acerca desse valor ou condição da existência plena.
O Homem é a sua liberdade, o Homem é antes de tudo livre. Estas são definições sobre as quais nos debruçamos na tentativa de achar um ponto de ligação às questões do cotidiano da existência. Pensar a liberdade em relação às amarras da mera sobrevivência, à cadeia do trabalho escravo ou assalariado, à privação dos diversos direitos e a alienação em relação aos nossos deveres de cidadãos é a pergunta que não quer calar.
Entendendo o crescimento da liberdade enquanto conquista da cidadania, localizamos o caminho a percorrer e que vai de encontro ao sentido da nossa luta, hoje e sempre, até habitarmos uma cidade sem muros , reais ou imaginários, que inviabilizam o acesso à condição de ser pensante, criativo e com seus direitos garantidos.
Uma sociedade sem manicômios pressupõe essa liberdade!
E para aquecer os tamborins, localizando o sentido das palavras acima, fechamos esta argumentação com o memorável samba da Imperatriz Leopoldinense,
Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós…
E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz.