Zema impõe sucateamento no CTI do HJXXIII para justificar privatização

O Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um dos maiores prontos-socorros da América Latina está funcionando em situação alarmante. Os relatos dos servidores do Hospital João XXIII são gravíssimos e apontam para risco assistencial. Depois de receberem as denúncias, o Conselho Estadual de Saúde (CES-MG) e diretores do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG) estiveram na unidade hospitalar na manhã desta sexta-feira (13/9) para conversar com os trabalhadores e conhecer a situação. Ar-condicionado que não funciona direito, plantões com escalas de técnicos de enfermagem defasadas, falta de material, uniforme e até de água para beber.

“Está piorando cada vez mais. O último mês foi muito difícil, trabalhamos em escala mínima, com pacientes graves e estamos levando do jeito que dá. Pacientes estão ficando sem cobertura e uma hora isso vai ser fatal”, falou uma das trabalhadoras.

Todos os relatos comprovam a grave crise do CTI e abre espaço para outra situação que agrava ainda mais: com a sobrecarga de trabalho, as faltas por adoecimento tem aumentado. As regras para hora-extra atrapalham a possibilidade de cobrir as faltas. “A hora-extra é só para atestado, mas se não tiver previsão a pessoa não consegue se organizar de uma hora para outra para vim trabalhar”, alertou outra trabalhadora. Eles afirmam que a hora-extra é solicitada apenas duas horas antes do início do plantão e 70% dos trabalhadores do CTI moram em outro município, o que dificulta o deslocamento a tempo.

Plantão defasado
Para os servidores, o quantitativo de técnicos de enfermagem não cobre a metade da demanda. “Tem situações que o paciente fica sozinho. Quem olha? Jesus Cristo!”, desabafa em tom de desespero uma das trabalhadoras. “Estamos abalados. Já chegamos cansados no plantão porque sabemos como está. Hoje mesmo precisou de um profissional e quem atendeu foi um estagiário”.

Segundo eles, 15 servidores se aposentaram e não foram substituídos. “Nossa escala está reduzindo. São aposentados, falecidos e contratos que saem e não recompõem o quadro”.

Estrutura
Hoje, o CTI comporta 42 pacientes, porém ainda enfrentam dificuldade com a estrutura do espaço que foi adaptado. Os usuários são agrupados de 10 em 10 devido ao formato do local, o que impõe a permanência de dois técnicos em cada “quadrado”. Se precisa sair, os pacientes são assistidos por apenas um técnico.

Já no 3º andar, onde funciona o semi-intensivo, são 21 pacientes. Neste local a situação também é alarmante por serem pacientes graves.

A climatização também gera problemas no atendimento. Com as altas temperaturas atuais, o sistema de ar-condicionado não funciona adequadamente. Os trabalhadores reclamam que um dos aparelhos desliga várias vezes ao dia, em outros há oscilações de temperatura e alguns trechos a janela fica aberta sem tela e mosquitos entram no hospital com frequência.

Em um dos setores de isolamento, que abriga pacientes sem risco de contaminação para aproveitamento do leito, os quartos são separados por parede, porém na maioria das vezes é um técnico apenas para acompanhar duas pessoas. Por não enxergar um paciente enquanto presta atendimento a outro, eles afirmam que acontecem situações de desassistência.

Outra reclamação é o aumento de contratações de médicos como Pessoa Jurídica e sem qualificação para atender as especialidades contratadas.

Reunião com a gestão
Após conversar com os trabalhadores, os diretores do Sind-Saúde e conselheiros de saúde percorreram a unidade para constatar as afirmações. Em seguida, reuniram-se com o diretor do hospital Fabrício Giarola Oliveira e o diretor administrativo Alexandre Luiz Martucheli.

Sobre o sistema de ar-condicionado, a gestão admitiu os problemas e dizem buscar solução. “Esse é um problema antigo, há 3 meses a gente já tinha esse problema que é estrutural e estamos tentando resolver”, afirmou Fabricio Giarola. O diretor administrativo informou que tem dois aparelhos de ar-condicionado em estoque e que irão avaliar a necessidade de coloca-los. Diferente dos equipamentos antigos do CTI, as salas da gestão estão com aparelhos novos e até com adesivos de fábrica.

Na primeira foto, equipamento de ar condicionado instalado na direção do Hopsital, na segunda, aparelho que os trabalhadores alegam falha de funcionamento

A gestão se comprometeu a resolver a falta de bebedouro no 3º andar imediatamente e afirmaram que no dia 28 agosto foi empenhado 50 novos purificadores para o HJXXIII que devem ser instalados em breve.

Lugar no corredor do 3º andar em que o purificador foi retirado

Em relação ao sistema de hora-extra e a falta de profissionais, Fabricio afirmou que irá apurar a situação e pediu um prazo de uma semana para dar retorno sobre isso.

Durante a reunião, também foi cobrado a homologação do concurso e a convocação dos novos servidores para suprir a demanda real do hospital.

Ministério Público
O Ministério Público (MPMG) foi acionado e está acompanhando a situação. O Sind-Saúde irá levar o tema à Mesa de Negociação do SUS, à presidência da Fhemig e ao secretário de saúde para cobrar mudanças imediatas.

“Pavimentação” para SSA
O Sind-Saúde/MG alertou os trabalhadores que as recentes pioras nos serviços estão acontecendo simultaneamente a tramitação do Projeto de Lei (PL) 2.127/24, que institui o Serviço Social Autônomo de Gestão Hospitalar (SSA-Gehosp). O sucateamento proposital para depois propor a privatização é uma tática utilizada em casos como o que vive os hospitais da Fhemig. O maior interesse hoje de Zema nos hospitais da Fundação é entrega-los à iniciativa privada.

O Sindicato defende a convocação imediata dos concursados para resolver os problemas relativos a falta de pessoal e garantir a assistência digna e humanizada aos pacientes internados.