Número insuficiente de vacinas deixa grande número de trabalhadores da saúde de fora da imunização

A esperança, euforia e alívio que tomaram conta do país com a chegada das primeiras doses da vacina contra COVID-19 estão aos poucos dando lugar a angústia, frustração e revolta com a falta de uma política de imunização de fato. Com poucas doses e uma fila enorme para vacinação até o grupo prioritário dos servidores da saúde tem sido reduzido drasticamente em Minas Gerais e em várias prefeituras. Os dados têm apontado que as doses da Coronavac, único imunizante disponível até o momento no país, não chegará nem a metade dos trabalhadores da saúde.

A cidade de Nova União, por exemplo, recebeu apenas 22 doses. Como a Corovac são necessárias duas doses para imunização, somente 11 dos 112 trabalhadores da saúde da cidade receberão a vacina. E em todas as cidades e unidades hospitalares a lista dos trabalhadores excluídos tem gerado questionamentos. Em Santa Luzia, segundo um trabalhador da saúde na cidade, a secretaria afirmou que não vai fazer a vacinação dos trabalhadores enquanto não chegar mais doses. O município recebeu 772 vacinas e tem um pouco mais de 4 mil trabalhadores da saúde. “Foi feita um ato simbólico em comemoração, no entanto a quantidade foi muito pequena. A secretaria de saúde explica que não irá distribuir as vacinas por conta do número insuficente”, afirmou ao Sindicato um trabalhador da cidade.

A diretora do Sind-Saúde Núcleo Betim, conselheira municipal e diretora da CUT Minas, Yara Diniz, critica a falta de transparência e planejamento na distribuição da vacina já no grupo prioritário. Betim recebeu 5.160 doses. “Temos uma preocupação porque 100% dos profissionais que atuam no setor COVID-19 na cidade foram vacinados, mas nas UPAS a gestão colocou uma lista de quem seria vacinado. Não falou qual o critério adotado, o porquê das escolhas. Têm UPA que disponibilizou 95 doses e outra 56 por exemplo. Número insuficiente nos dois casos e entendemos que todas as unidades de saúde estão no enfrentamento da COVID-19. Já era sabido que não conseguiria vacinar todos frente a questão nacional e estadual que foram impostas, mas minimamente uma transparência e um planejamento,” relatou Yara que trabalha no Hospital Regional de Betim e foi imunizada na terça-feira.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES/MG), 227.472 profissionais de saúde que atuam na linha de frente receberão as primeiras doses da vacina. Minas recebeu 577.480 doses do imunizante. A despeito da falta de planejamento e descrédito que o governo Bolsonaro tem tratado o Plano Nacional de Imunização, o governo Zema não apresentou nenhuma alternativa para garantir a vacinação caso a atrapalhada do governo federal confirmasse a falta de vacinas no Brasil.

O Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG) defende que todos os trabalhadores da área da saúde sejam vacinados, incluindo servidores administrativos, limpeza, motoristas por exemplo. O Sindicato tem reafirmado que na área da saúde, em especial se tratando da COVID-19, todos são linha de frente porque estão expostos ao contato com vírus cotidianamente. É o caso, por exemplo, dos CAPS que estão excluídos da lista de imunização, mas que na prática lidam com usuários que podem estar contaminados.

“Eu estou muito preocupada com nós trabalhadores dos Caps porque recebemos todos os dias vários pacientes em situação de vulnerabilidade, pessoas sintomáticas da COVID-19 e nós recebemos essas pessoas muitas vezes sem saber em um primeiro momento que eles estão com sintomas. E não tem nem previsão de quando seremos vacinados”, desabafa um servidora da saúde mental de Vespasiano.

A diretora do Sind-Saúde Lionete Pires reforça a importância de lutar por decisões que fortaleçam o SUS e a força de trabalho. “A Pandemia escancarou muitos problemas enfrentados pelos trabalhadores da saúde. As péssimas condições de trabalho e ausência de política de recursos humanos no SUS. Muitas vezes o município empurra para o estado que por sua vez empurra para União a insuficiência de dose de vacinas e eu, enquanto representante do controle social em minha cidade, me deparo com a situação angustiante das pessoas do grupo de risco que estão ansiosas pela vacinação”, reflete Lionete.

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