Dia Internacional da Mulher

Luta por funcionamento de maternidade vira ato em defesa da mulher em BH

 

O Dia Internacional da Mulher foi de vitória importante para as mulheres e para a saúde em Belo Horizonte. O ato convocado pelo Conselho Municipal de Saúde e ao qual vários sindicatos aderiram, inclusive o Sind-Saúde/MG, recebeu centenas de pessoas em frente ao Hospital Sofia Feldman.  

O Hospital, 100% SUS, é referência em parto normal em Minas Gerais e é a segunda maternidade em número de nascimentos, fazendo 900 a 970 partos por mês.  Neste começo de ano, o Sofia enfrentava ameaça de fechamento. Até esta quarta (08), todos os funcionários de nível universitário do Hospital não tinham recebido o 13º salário nem o salário de fevereiro. O salário de janeiro foi pago na proporção de 30% do valor do contracheque. Ao todo o Hospital possui 1.167 trabalhadores.

Mulheres formavam a maior parte do público na entrada do Hospital   

O prefeito Alexandre Kalil chegou ao local quando a multidão abraçava o hospital e os líderes de movimentos sociais denunciavam as condições do Sofia. A suspensão do atendimento dos bebês começava a ser cogitada por falta de insumos. Em reunião com a diretoria do Hospital, durante o ato, o prefeito disse que vai repassar R$ 5 milhões para o Sofia Feldman.  Conforme diretores do Sind-Saúde presentes na reunião, o prefeito disse que na gestão dele nenhum hospital da capital vai fechar.

Para o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, o médico Bruno Pedralva, o recurso deve servir para dar condições de dignidade e qualidade para o Hospital seguir com a “boniteza” do trabalho que faz. Pedralva destacou que o repasse que o prefeito se comprometeu a fazer deve ser considerado uma vitória de cada uma e cada um que estava ali.

 Acima, diretores do Sind-Saúde e o presidente do CMS/BH

Dia Internacional da mulher foi de demonstração de afeto pelo Hospital. 

Mulheres com filhos ou simpatizantes do parto humanizado, funcionárias e funcionários do Sofia e até artistas demonstraram que o que as (os) levou até o ato foi o afeto com o hospital. Talvez um pouco mais. Nesse Dia Internacional da Mulher, as mulheres, especialmente, se sentiram empoderadas para se manifestarem  em defesa do Hospital que é quase um símbolo, em Belo Horizonte e no estado, na busca do atendimento mais humanizado da mulher.

“Acho que as mulheres, assim como os trabalhadores, há muito pouco tempo ganharam voz”, diz a cantora Titane (abaixo), concordando que este Dia da Mulher estava mais politizado. Titane foi mãe aos 41 anos e teve a filha de parto normal em uma maternidade com os padrões semelhantes aos do Sofia Feldaman na cidade de Ceres, em Goiás.  As maternidades devem oferecer (as condições para) o parto que a mulher precisa e não o que acham que ela precisa”, diz. Na visão da cantora, as mulheres estão à frente de uma revolução social já que estão atualmente em todos os espaços de luta da sociedade.

A militância também esteve presente no ato. A assistente social Lauana Lara (foto), que trabalha no Centro de Referência de Saúde Mental Álcool e Drogas/ Nordeste, em Belo Horizonte, faz parte do movimento parto humanizado, Nascer Sorrindo, de Contagem.  Exibindo orgulhosamente os cabelos afros, Lauana explica que a luta das mulheres negras está encontrando expressão nas mais jovens. “ Esta geração está procurando abrir esse espaço”, analisa. De acordo com ela, é a ancestralidade do povo negro que dá a força que as mulheres precisam para lutar. “Nossa história (no Brasil) é muito marcada pela escravidão. É essa história que faz manter viva a luta contra o racismo que está longe de acabar”.  

Funcionárias do Sofia admitem que o trabalho onde se sentem mais empoderadas ao cuidar de outras mulheres dá um sentido para a própria vida. “Trabalhei três anos, saí e depois voltei. Estou há 09 no Hospital”, diz a psicóloga do RH, Conceição Lima (foto)  

  

A enfermeira obstetra Sibylle Vogt é alemã e trabalha no Sofia há 23 anos. “Desde que formei na UFMG, esse é o meu único emprego com carteira assinada”, conta. Ela destaca que o hospital consegue dar mais espaço e valorização para o trabalho da enfermagem. “Isso não é comum no Brasil”, conta, explicando que essa foi a razão de não querer voltar até hoje para a Alemanha”.  Sibylle lembra que a assistência de enfermeira obstetra no parto normal, como faz o Sofia, é uma raridade entre as maternidades brasileiras. Também elogia o fato de o hospital atender pacientes de alto risco e conseguir uma taxa de 25% de cesarianas contra a média de 56% do país.

Gente que veio do interior para apoiar

A família de Liliane Moraes, microempresária e Renan Barbosa, psicólogo –  os dois e os filhos Gael de 3 e Maia de 1 (na foto abaixo) – saíram de Congonhas para ajudar a lutar pelo parto humanizado neste Dia Internacional da Mulher em BH. Depois de ter o filho no Sofia Feldman, Liliane foi além, teve a menina em casa. Tudo deu muito certo. “Acho que as mulheres precisam se informar porque os serviços (de parto, médicos e hospitais) visam muito as próprias conveniências”. Ela é interrompida pelo marido que completa: “as informações disponíveis, normalmente, são as que minam a força da mulher”. Liliane cita as ongs Bem Nascer e Nascer Sorrindo como boas fontes de informação sobre o parto humanizado.  

 

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